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21.3.14

Um livro triangular

Já os tinha visto circulares, mas triangular é o primeiro:





Sobre alquimia, claro. São sempre os doidos e os visionários a fazerem coisas destas.

Mais aqui.

20.3.14

봄 여름 가을 겨울 그리고 봄

No Verão de 2013, além de ter lido O Verão de 2012, li o Consider the Lobster and Other Essays, de David Foster Wallace. Em bom rigor, acabei de ler. Já tinha começado o primeiro essay, que me parecera bom, ainda que um tudo-nada longo demais. O primeiro, felizmente, não era o melhor de todos eles, pelo contrário. Os que li depois, como Authority and American Usage, foram amplamente sublinhados e anotados. No Kindle. Ou melhor, na app Kindle do meu tablet, e em versão pirata. Up, Simba, por exemplo, foi lido de um só fôlego eufórico, com o coração aos saltos («Como é possível ser-se assim tão bom?!») em duas tardes de praia, mesmo com o reflexo do sol («sombras, preciso de sombras, óculos, chapéus, ponho-me de lado e assim consigo»). Novas notas tomadas. Quando acabei de ler o livro, decidi que iria comprá-lo em papel, para poder ressublinhar, reanotar, guardar, revisitar e emprestar. Tinha decidido o mesmo quanto a outro, que também lera e anotara uns tempos antes: Arguably, de C. Hitchens.

No Inverno de 2013, após uma actualização a contragosto, a app Kindle do meu tablet apagou todas as notas que alguma vez fizera a todos os livros que lá tinha. To-dos. Encarei-o com a equanimidade possível. Além do que, uma parte de mim sabia que o merecia por 1) ter confiado num aparelho para uma coisa tão importante e 2) ter lido versões pirata. Não voltei a cair nesse erro e não mais cairei nele no que disser respeito a obras-primas.

Na Primavera de 2014, encomendei esses dois livros de bom grado, sabendo que os relerei e conservarei com gosto. Já tenho o primeiro, o do Wallace. Além da alegria de rever um bom amigo, um bónus: Host. Um último essay que não constava do e-book por ser graficamente complexo. Que felicidade!





Ah, e antes de o reler e de o personalizar, vou dá-lo a ler a uma pessoa especial. Estive à espera do exemplar em papel, que as cumplicidades e outras coisas privadas não se partilham tão bem num tablet.

26.12.13

2013

Foi um ano de poucos posts. Quando penso nisso, sinto alguma pena, mas não dura muito outros fazem-no tão bem ou melhor do que eu, a minha freguesia, embora importante, não é muita, e, sobretudo, tenho mais que fazer. Enquanto tiver mais que fazer, os blogues ficarão para segundo plano. Em todo o caso, são projectos em curso, longe de falecidos. Como eu.
Para post de despedida calendária, um balanço, um único, que os outros são interiores, o dos livros que li em 2013 (além dos que escrevi, revi e traduzi, e não incluindo as centenas de artigos consumidos), mais ou menos por ordem de leitura:

Confessions of a Buddhist Atheist, de Stephen Batchelor (no tablet)
Berta La Larga, de Cuca Canals
O Ente Querido, de Evelyn Wagh (trad. de Jorge de Sena, com uma ou outra coisa a melhorar)
Hitch 22, de Christopher Hitchens <3 <3 (no tablet)
The Fran Lebowitz Reader, da mesma
O Sistema Periódico, de Primo Levi (com uns capítulos melhores do que outros e com um particularmente bom)
A Terra das Ameixas Verdes, de Herta Müller
Afirma Pereira, de A. Tabucchi
O Templo Dourado, de Mishima (que não li até ao fim, por já estar satisfeita)
Auto-de-fé, de E. Canetti
A Short History of Nearly Everything, de Bill Bryson (no tablet)
Consider the Lobster and Other Essays, de DFW <3 <3 <3 (no tablet)
O Verão de 2012, de  Paulo Varela Gomes
A Bíblia do Caos, de Millôr Fernandes
O Fogo e as Cinzas, de M. Fonseca
Tanta Gente, Mariana, de M. J. Carvalho
The City and The City, de China Miéville (no tablet)
Contos, vol. I, de Tchékhov (ainda por terminar, está na m-d-c, será um por noite)
A Noite e o Riso, de Nuno Bragança
Heidegger e um Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso, de D. Klein e T. Cathcart
Maus, de Art Spiegelman
A Livraria Noite e Dia do Sr. Penumbra, de R. Sloan
A História de Rosa Brava, de J. Régio
Both Flesh and Not, de DFW <3
A Supposedly Fun Thing I Will Never do Again, de DFW <3<3 
Peguei noutros, mas desinteressei-me e não contam.

Também na m-d-c, para terminar ou começar ainda este ano: 
Love, Poetry and War, de Christopher Hitchens <3
Em Busca do Tempo Perdido, vol. I, de M. Proust
S., de J. J. Abrams e Doug Dorst

Para o ano? Acabar o D. Quixote, que ficou a meio, a Bíblia, Rayuela (a ver se é desta que passo das primeiras páginas e avanço sem medo de ficar esmagada), Guerra e Paz, A Divina Comédia e mais uns quantos clássicos que consiga deglutir, entrecortados com disparates, para não variar. A ver se faço outra lista destas no fim, que tem graça.

Espero que tenham tido um bom Natal (com livros, além de meias e chocolates) e que 2014 vos seja leve.

2.12.13

Ser humano em Nova Iorque

"I've got a whole stack of books in my cart. Most of them are advance copies. I know a place where they get thrown out."
"How many books have you read?"
"Thousands."
"So why are you homeless?"
"I've tried to work a job a bunch of times. But then I get sad, and then I get high, and things fall apart."


Um de muitos, a propósito deste livro.

25.11.13

«Prestígio»

Como vemos pelo exemplo abaixo, os livros ainda são vistos como objectos de prestígio. Não sei porquê, isso não me anima.

Fig. 1: Montra da afamada Nespreso no grandioso edifício d'O Corte Inglês, na distinta Av. António Augusto Aguiar.




27.5.13

Dos títulos I

 

«It was either that or Sacred Cow, and I thought Sacred Cow would be in bad taste.»
Christopher Hitchens

17.5.13

Tsundoku

Todos os bibliófilos já passaram por isso: pilhas de livros comprados (apesar de não haver tempo para os ler) e empilhados em mesas-de-cabeceira, estantes, chão e afins. Os japoneses claro! têm uma palavra para isso: tsundoku.


A questão é que ter uma palavra para o problema não o diminui...

Via Galley Cat. (Obrigada, P.!)


PS: Os japoneses, uma civilização com casas bastante pequenas e que, ao que parece, tem até uma palavra para «quando saímos do cabeleireiro pior do que entrámos» (Age-otori).


PS2: Se gostam de palavras, de japoneses e de cores, recomendo vi-va-mente este artigo.

9.5.13

Coralie Bickford-Smith

Via The Casual Optimist, descobri uma entrevista a Coralie Bickford-Smith (Lembram-se? De que falei neste post?), designer que faz coisas maravilhosas para a Penguin.

Vale a pena ver a cara por detrás das capas e perceber como a paixão, o talento e a humildade dão sempre bom resultado.


Muito refrescante, longe de feiras do livro anómalas, mesquinhezes de aldeia e incompetências gerais, não é?

3.5.13

Out of Print


 
Já está na lista de documentários a ver. Algumas reflexões sobre o filme aqui.

25.4.13

In the eye of the beholder


Leio sempre Debaixo de Alguém.

Perguntei a outra pessoa o que lia, para ver se lhe acontecia o mesmo. Resposta? Debaixo de Algum Cu.


Também vejo alguma coisa de Murakami.

()

Se virem outras coisas estranhas avisem, que assim vamos todos juntos ao psicanalista e sai mais barato.

23.4.13

Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor


Impolémica

Há dias, o nosso presidente da república em Havana, perdão, em Bogotá, discursou no âmbito da Feira do Livro dessa cidade (que é mais um festival literário do que uma livraria ao ar livre). Portugal é o país convidado, estiveram presentes muitos autores do nosso canto do mundo e fazia sentido que Aníbal Cavaco Silva dissesse umas palavrinhas a propósito.
O que não fazia qualquer sentido era considerar obrigatório que o nosso presidente, por quem nem nutro especial simpatia, tivesse de citar obrigatoriamente o nosso nobelizado Saramago, a quem até acho graça, no seu discurso. Por alma de quem? Do falecido?
El Presidente fez uso da sua liberdade de expressão, citou Camões muito bem e até Vergílio Ferreira («Da minha língua vê-se o mar.»). Elogiou García Marquéz, referiu Jerónimo Pizarro e Álvaro Mutis. Para mim, já chega de name-dropping.
Saramago, que tem um Nobel, uma bela fundação, best-sellers e milhares de leitores precisava agora que um homem que desprezava o referisse? Acho que até agradecia o silêncio.
Assim, não percebo a onda de indignação que varreu tudo, dos notíciários ao Facebook. De repente, até parece que não temos mais com que nos indignar. (Mas depois lembrei-me de que estou em Portugal.)

22.4.13

Feirar ou não feirar, eis a questão II

Para tentar compreender a parte da matemática, esta que vos escreve pôs-se a puxar pela cabeça e a fazer contas:

Em 2012, houve 188 pavilhões na Feira do Livro de Lisboa, segundo o mapa oficial (contei os rectângulos à mão, posso ter-me enganado).


Em 2013, segundo o regulamento, o preço de aluguer dos pavilhões é o seguinte:


Como em 2012 deve ter sido igual ou parecido...

188 pavilhões x 1800 € (contas por baixo, pois certamente haverá muitos a 2000 €) 
=
338 400 €
=
Uma pipa de massa
(Já para não falar dos valores recebidos dos patrocinadores, cujos montantes desconheço por completo.)


Para onde vai o dinheiro?
 
Para a compra dos novos pavilhões, que estão em utilização desde há três ou quatro anos?
Segundo noticiado, em 2009 a autarquia do Porto celebrou um acordo «com a APEL para “o regresso da Feira do Livro à Av. dos Aliados”, tendo para o efeito celebrado um protocolo no valor de 300 mil euros, repartidos ao longo de quatro anos, destinados ao investimento em novos equipamentos». Tanto quanto sei, os pavilhões usados no Porto e em Lisboa são os mesmos. Portanto, essa despesa está coberta. (Não percebo muito de carpintaria, mas 300 000 € devem dar para pagar 200 caixas de madeira daquelas. 300 000 € a dividir por 200 dá 1500 € a unidade.)

Para o aluguer do espaço?
Como a Câmara é entidade parceira e a realização do certame é do interesse da população, creio que disponibiliza o espaço gratuitamente. Pelo menos no caso do Porto é assim.

Para o pessoal da APEL?
Os funcionários que a APEL tem na feira são os mesmos que integram a sua estrutura ao longo do ano. Mas posso estar enganada.

Para animação cultural?
Pelo que vi em várias edições em que participei, essa é trazida ou pelos expositores ou pela câmara/outra entidade associada (como bibliotecas, por exemplo). Mas imaginemos que a APEL convida artistas no valor de 10 000 €. (Por 7500 €, já conseguimos um Quim Barreiros.)

Então, se não for para isso, irá:

Para o pessoal da montagem/manutenção?
Certamente. Deslocar e montar o equipamento exige mão-de-obra. Várias pessoas a trabalhar durante uma ou duas semanas e mais uma semana para a desmontagem.
Depois há electricistas e equipas de limpeza para as casas-de-banho, etc. 
Contabilizemos 20 000 € (100€ dia/pax, para uma equipa de 10 pessoas montar os pavilhões em 9 dias e desmontá-los em em 5 dias = 100 € x 10 pax x 14 dias = 14 000 €, a que se somam 6000 € de custos variados) 

Para aluguer/compra de equipamento?
Certamente. São necessárias casas-de-banho móveis, colunas de som e microfones para os anúncios, tendas para eventos, etc.

Para outros custos?
Claro, há sempre custos inerentes a uma operação destas; custos que, como leiga, desconheço. Suponho que sejam armazenagem dos pavilhões durante o resto do ano, comunicação (site, folhetos, divulgação), etc.
Contabilizemos 50 000€

Mas…
Mão-de-obra para montagem/manutenção, aluguer/compra de equipamento e outros custos inerentes… todos somados… dão 338 400 € (contas por baixo)? 
338 400 € dá para comprar dois bons apartamentos vista rio e ainda sobra para a decoração.

As contas que fiz acima, resultam em  95 000 €. Arredondemos, já que eu não tenho noção nenhuma, para o DOBRO = 190 000 €. Isto continua a ser METADE do que a APEL ganha com aquilo que cobra aos participantes.

Fiz todas estas contas por aproximação porque existe um problema de falta de informação. Nunca a vi em lado nenhum e nunca estive em posição de a pedir à APEL (e agora que não trabalho numa editora, menos ainda). Mas a curiosidade persiste.

Quanto às notícias da não realização da Feira do Livro do Porto, ajudem-me a perceber, porque sozinha não consigo.

Até aqui, estes foram os números da Feira do Livro de Lisboa. No Porto, costuma haver menos participantes e, com certeza, há algumas variações nos custos. Mas, mesmo que seja menos lucrativa, com 170 000 € de dinheiro das inscrições dos participantes (metade), vá, não se faz uma feira? Se a Câmara já deu os 300 00 € acordados para adquirir pavilhões e se esse valor foi para os pagar e foi suficiente para os comprar, como é que a feira era viável em anos anteriores (no ano passado!)  e não é este ano? Mesmo com despesas de alojamento de algum pessoal que vai de Lisboa, imagino que 170 000 € (contas por baixo, pois ainda há patrocícios) sejam suficientes — até porque uma feira mais pequena tenderá a ter menos custos. E mesmo, MESMO, que não seja suficiente para cobrir despesas, o lucro que a APEL faz com a FLL não chega para financiar a FLP?

Esta foi a parte da matemática. 

Agora a parte política: faz sentido, sobretudo depois de feitas as contas, pedir anualmente 75 000 € (ou outra quantia deste calibre) a uma Câmara, seja ela qual for, para a realização de uma feira destas que tem inegável relevância cultural mas que é, para todos os efeitos, uma livraria gigante ao ar livre mais do que um festival literário ou qualquer outra coisa ? A mim, parece-me absurdo.

Eu gosto muito da Feira do Livro, apesar de todos os seus defeitos. E sei que estas feiras são a principal fonte de rendimento da APEL, além das quotas dos associados, e que é com esse valor que a associação se mantém activa, pagando aos funcionários, assegurando gratuitamente o serviço de ISBN, etc. Mas, quando uma Câmara nega continuar a dar 75 000 € para a realização de uma feira que pode gerar 170 000 € para a organização (antes de despesas), criar postos de trabalho, dar vendas e visibilidade aos editores (o seu principal objectivo), ser importante para a vida cultural da cidade, etc., a mesma passa a ser inviável para a APEL? Custa-me a crer. E mesmo, MESMO, que seja inviável, não vale a pena repensar o modelo em vez de desistir ou de insistir* no erro? Repensá-lo para bem dos editores, que, afinal, são a APEL? Para bem dos visitantes, que são a razão de ser das feiras? Acho que vale. Vale a pena repensar tudo.

Para terminar, aqui fica uma pérola em forma de vídeo, no qual o benévolo leitor pode ouvir os protagonistas por si mesmo e beliscar-se enquanto o faz:


Cito a locutora, para o caso de lhe ter escapado: «A APEL afirma que a feira não pode ser realizada sem que a Câmara do Porto entre com o dinheiro com que se comprometeu
E repito as palavras da vereadora, para os benévolos ouvidos mais distraídos: o valor acordado já foi pago na totalidade, a Câmara cede o espaço, outros serviços e está disposta a dar um apoio adequado às realidades do país, mas não foi possível chegar a acordo com a APEL.

Portanto, quando defendemos o dinheiro dos contribuintes estamos a ser economicistas. Quando defendemos os interesses de uma classe de empresas estamos a ser sentimentais. Percebi bem?



PS: Já em 2011, quando se estimou os danos nos pavilhões causados pelos adeptos do FCP em 40 000 €, os números me pareceram altíssimos. Mas isso sou eu, que 1) ganho poucochinho e, portanto, tudo o que tenha mais de três zeros me parece uma fortuna e 2) não percebo nada de carpintaria. (Cá para mim, há uma fábrica de pavilhões qualquer que enche os bolsos com esta história toda.)

PS2: A APEL diz muito bem da CML, por comparação com a CMP. Gostaria de saber quanto do nosso dinheiro sai do nosso bolso, passa pela CML e acaba na APEL. Só por curiosidade.


*A APEL disse que voltaria a tentar organizar a feira para o ano, quando os protagonistas na CMP fossem «outros». Suponho que pense fazê-lo recorrendo ao mesmo modelo, um modelo que afirma não ser viável sem subsídios.

19.4.13

Feirar ou não feirar, eis a questão

Feiras do Livro de Lisboa e Porto, APEL, dinheiros públicos, uma novela venezuelana com política e farturas à mistura. Nos últimos anos, quase sempre na hora H, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (!) avisa que a realização da feira está em perigo, por um fio de ovos, por um cabelo de serafim. A Cultura passa-se, faça-se um novo 25 de Abril e a feira lá se faz, num qualquer Abril com frio e chuva ou num Maio/Junho mais soalheiros. As polémicas são muitas — barracas novas ou antigas, maiores ou mais pequenas, iguais para todos, umas mais iguais do que outras ou todas iguais todas diferentes, se há casas-de-banho portáteis, descartáveis, unissexo ou se vamos todos à mata da estufa-fria —, um ai jesus que se a-paga a luz. O drama do financiamento é o que mais confusão gera e, como é tradição, só à última se assinam os protocolos com os presidentes ou vereadores dos respectivos municípios e restantes entidades. É neste ponto que deixo de perceber as coisas. E deixo de perceber porque nunca fui boa a matemática, confesso, mas, sobretudo, porque até hoje nunca ninguém me mostrou os números concretos e me explicou como se fazem as contas.

Se as Câmaras cedem o local para a realização da feira, se os editores e livreiros participantes pagam à organização o espaço que ocupam e se esta ainda angaria verbas com patrocínios de privados (50 000 € ao todo? mais? menos?), não é possível encontrar um modelo de feira que seja sustentável sem pedir a uma Câmara Municipal 75 000 € por ano (!) mais fornecimento de animação cultural? Os editores e livreiros conseguiram-no no passado. Se hoje não conseguem fazer a feira de forma sustentável ou inventar novos modelos de feira, que sirvam melhor os seus interesses e os do público, talvez não sejam tão capazes como deviam. Ou sou eu que estou a ver tudo mal? De qualquer das maneiras, não me parece que a coisa seja problema da Câmara, sobretudo num momento em que 75 000 € são mais bem empregues em apoios sociais, por exemplo, que tanta falta fazem. 

As feiras são muito interessantes, as pessoas da APEL são muito simpáticas, os custos com a organização das feiras (montagens, etc.) não são, com certeza, despiciendos, mas alguém tem de fazer alguma coisa de diferente se as feiras forem para continuar. E esse alguém não são as Câmaras, parece-me. Quando um acontecimento deste cariz se realiza se houver subsídios (ou incentivos, parcerias, sinergias ou o que quiserem chamar-lhe) desta natureza, algo está podre no reino da Dinamarca. 

E agora, aqui fica o excerto de uma notícia (é mesmo uma notícia, não estou a brincar, limitei-me a sublinhar):

Confrontada no ano passado com um pedido de renovação do apoio anual, de 75 mil euros, acordado em 2009 e que vigorou até 2012, a autarquia recusou. "A Feira do Livro é uma actividade comercial desenvolvida por empresas privadas, pelo que se exige da câmara rigorosos critérios, particularmente nestas circunstâncias, na utilização de dinheiros públicos. Ainda assim, o município sempre reafirmou à APEL a sua disponibilidade para continuar a apoiar tão importante iniciativa, nomeadamente a ceder gratuitamente, para o efeito, a plataforma central da Av. dos Aliados, isentando a organização de todas as taxas e licenças, e assegurando apoio logístico na segurança e na limpeza dos espaços de circulação".

Para além da questão financeira, a APEL não gostou de ser tratada como "mera arrendatária de um espaço" na cidade, explicou ao PÚBLICO o vice-presidente da associação, Pedro Pereira da Silva. Ao contrário do que acontece na feira de Lisboa, cujo sucesso os livreiros atribuem ao "espírito de parceria" com que a autarquia encara o evento, no Porto, assinala o dirigente da APEL, a câmara não deu também resposta aos pedidos para um maior envolvimento seu na animação cultural dos Aliados durante as semanas do certame.

Pedro Silva Pereira assinalou ainda que a manutenção do apoio da autarquia permitiria compensar a diminuição dos valores pedidos aos livreiros para participação na feira, condição necessária, em anos de crise acentuada, para garantir uma oferta alargada e minimizar os riscos de prejuízos. Mas, para a autarquia, "não podem ser os contribuintes a suportar os riscos de uma eventual quebra das vendas".


PS: gosto especialmente da parte do artigo que diz «Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) espera realizar a 83.ª edição em 2014, já com outros protagonistas na Câmara do Porto


Actualização: saiu mais uma notícia sobre o assunto, aqui. Mais dados, o problema é o mesmo.

11.4.13

Jackie O, working class hero


Sabiam que Jackie O foi book editor? Eu não sabia.

Está aqui um de muitos artigos sobre esses anos da sua vida e sobre uma polémica em que se envolveu. Saltei a parte da polémica e li só as coisas giras. No fim, uma passagem ainda ecoa:

Former Doubleday executive and senior editor Betty Prashker described these changes in publishing for Al Silverman, who chronicled the period in his book The Time of Their Lives: “In the beginning, in the forties and fifties, the editor was at the top of the pyramid, supported by the administration, the art department, the sales department, the promotion department. There was basically no business department. But gradually over the years that pyramid ended, and the editors wound up at the bottom.”

9.4.13

Os e-books e a paginação

Eis o meu artigo de ontem no eBook Portugal



Num artigo anterior, expus algumas apreensões relativas ao rosto dos e-books. Agora falarei das minhas preocupações quanto ao corpo.

Todos os livros em papel são paginados. Há sempre alguém que espalha o texto pela página e lhe dá forma. Antigamente eram os compositores, nas gráficas, hoje em dia são os paginadores, ajudados por programas informáticos. As escolhas subtis que os editores e estes profissionais fazem influenciam o modo como reagimos ao livro: o tipo de letra, o espaçamento entre linhas, a largura da mancha de texto e outros factores afectam as sensações que temos ao ler, ainda que inconscientemente. O simples facto de habitualmente termos duas páginas lado a lado e de lermos da esquerda para a direita condiciona-nos muito.

A paginação nasceu com a imprensa, tem a sua tradição, as suas regras, as suas limitações e as suas fugas possíveis à norma. Um bom paginador pode entrar para a história, como Olímpio Ferreira, e deixar a sua marca pela originalidade ou perfeição. Era assim com a tipografia, assim se manteve quando a paginação passou a ser feita no ecrã, mas, no que toca aos livros digitais… não sabemos como vai ser.

Em e-books de texto corrido, a paginação deixa de existir no sentido habitual do termo, pois passamos a ter páginas dinâmicas sem grande formatação. Nos e-books ilustrados vemos que os autores e editores, em grande parte, se têm afastado do conceito tradicional de livro para tirar partido das novas potencialidades interactivas, optando por «livros animados» ou enhanced e-books (veja-se o caso de Mr. Lessmore ou do iPoe). Assim, que espaço há para a arte de bem dispor palavras na página? Graças como as que vemos neste livro da Orfeu Negro (na imagem acima), ou neste da Assírio & Alvim, serão possíveis num livro electrónico? No futuro, como serão por dentro os livros 2.0? Se um livro tem uma paginação ajustável, que se adapta às características de cada aparelho leitor o mesmo livro pode ser lido na grande tela de um iPad, na tela média de um Kindle ou na de um telemobilis vulgaris , qual o papel do paginador?

Além da questão do tamanho do ecrã, depois ainda há as preferências do utilizador quer ler o texto em que cor, em que tamanho, em que tipo de letra? As decisões unilaterais e definitivas que dantes pertenciam à editora agora cabem ao leitor. Isso é simultaneamente bom e mau: bom porque o leitor pode melhorar a sua experiência de leitura, adaptando-a aos seus caprichos e necessidades (não é óptimo que um míope, por exemplo, possa regular o tamanho da letra?); mau porque o editor e a sua equipa deixam de poder embutir no texto algumas características próprias. Ao tornar o seu produto mais universal, a editora também o torna menos especial.

Mas os e-books ainda têm de ser paginados, não é? Alguém tem de formatar minimamente o ficheiro. Ler puro texto corrido, sem hifenizações na quebra de linha, sem hierarquias de títulos e outras pequenas grandessíssimas coisas seria desagradável, tal como seria muito aborrecido lermos volumes inteiros num formato estático, estilo PDF estaríamos a cansar-nos desnecessariamente e a subaproveitar a tecnologia.

Depois há problemas que a paginação digital (fluida) levanta, tal como a falta de números de página, que pode tornar muito difícil seguir um texto em conjunto numa aula ou citar passagens em bibliografias. (As ferramentas de busca, que permitem pesquisar por determinadas palavras e chegar à passagem, são apenas uma solução improvisada.) Tudo isso acabará por ser resolvido mais tarde ou mais cedo, suponho.

Como é que actualmente se faz a paginação de um e-book? No caso dos textos corridos, não é muito difícil paginar; tira-se partido daquilo que já se usa em html: títulos, estilos, etc. No caso de «livros animados», não é bem paginação, será quase design gráfico puro/montar um filme/desenhar um jogo de computador.

Parece-me que, entre uma coisa e outra livros de texto simples e livros de conteúdo complexo   há espaço para nascerem layouts inventivos que funcionem bem em e-book e que permitam à editora moldar mais e melhor texto e imagens. Veremos layouts que se inserem num modelo «scroll down infinito», num de «páginas sequenciais» (como no livro físico), em ambos os modelos ou surgirá algo completamente diferente? Está tudo em aberto.

Até ao momento, pelo menos, a grande maioria dos livros electrónicos que tenho lido são bastante rudimentares em termos de paginação e em nenhum deles a disposição gráfica do texto é especialmente agradável e eficaz.* Lêem-se, apenas.

Tenho muita curiosidade em relação ao que aí vem. Se tiverem pistas ou ideias, deixem-nas na caixa de comentários.


*Se usar um conversor de ficheiros como o Calibre, então, a paginação dos novos ficheiros fica desastrosa, cheia de formatações perdidas. É o que acontece comigo, pelo menos (não excluo a hipótese de ser eu a parte inábil).



PS: Depois de ter escrito o artigo e pensado mais no assunto, apercebi-me de que uma das minhas perguntas é um tanto disparatada: «Graças como as que vemos neste livro da Orfeu Negro (na imagem acima), ou neste da Assírio & Alvim, serão possíveis num livro electrónico?» É claro que serão. Dará trabalho, mas sem dúvida que se consegue fazê-lo. Simplesmente, os paginadores do futuro, além da sensibilidade estética e dos conhecimentos técnicos, terão também de ser bons a programar.

2.4.13

Gostar de livros


Elizabeth Perez.


Tribunal da Propriedade Intelectual

Em Abril de 2012, foi criado o Tribunal da Propriedade Intelectual. No primeiro ano de actividade, o tribunal contou apenas com uma magistrada para dar resposta aos quase dois novos casos por dia relativos ao direito de autor e a marcas e patentes. No mês passado, esta instituição acolheu mais um juiz. Viva.

18.3.13

Ebook Portugal

O Ebook Portugal é um site sobre «o presente e o futuro da leitura». Há uns meses, comecei a escrever para o site (de forma um tanto irregular, devido aos muitos afazeres e por ainda ter amor à minha vida pessoal), e já lá vão alguns pequenos textos. Um deles é sobre as capas dos livros digitais. Hoje, escrevi sobre um «tablet para senhoras», um objecto intrigante, no mínimo. Talvez queiram espreitar, ó leitores e não leitores de e-books (as pessoas, não os aparelhos, coisas que não devem ser confundidas).
Daqui para a frente, tentarei ser mais constante nas minhas contribuições para este site. Agora que eu própria sou dona de um senhor tablet, hão-de aparecer certamente mais textos sobre isto de ser uma ponte, alguém que se lembra de televisores a preto e branco e que agora marca um PIN para entrar no abismo. Vejamos o que aí vem.

6.3.13

Amazon, esse papão

Por muitos, a Amazon é vista como um monstro a boa gente da Melville House não pára de nos avisar , por outros, como uma bênção. A Amazon veio revolucionar as vendas on-linecliché mas é verdade) e todos nós, profissionais da edição e leitores cosmopolitas, de uma forma ou de outra, acompanhámos de perto esse fenómeno. Contudo, nem sempre os  fornecedores, os clientes e os curiosos compreendem bem o que está por detrás desse colosso. Se gostava de saber mais acerca do funcionamento desse pedacinho do nosso mundo e tem 30 minutos para gastar, oiça esta entrevista, que vale bem a pena.

PS: Depois, abra esta janelinha e sorria.

23.2.13

Ao quadrado

Já se sabe que as novidades se sucedem a uma velocidade superior à da luz e que, de tão difíceis de acompanhar, por vezes desistimos de o fazer ou sequer de as assinalar. Desta vez vale a pena parar e dizer: há duas novas, e das boas. Uma, a revista Papel, sai às quintas e, editada por uma inglesa, está cheia de bom português. A segunda, que conheci poucos dias depois, é a Forma de Vida, bimestral, é toda ensaios e conversas. Ambas, curiosamente, com quadrados coloridos no rosto. A explorar devidamente, cada uma a seu ritmo.


PS: Ah, quase me esquecia (mas como se não soubessem já...), a Granta está à porta. 
PS2: Ia-me esquecendo outra vez! Na altura não noticiei, que estava ocupada, mas há uns meses nasceu o Edição Exclusiva, um blogue sobre a edição em Portugal. Tomem nota, que vale a pena seguir. (Apesar do subtítulo nada pretensioso, tem algumas reflexões bem interessantes.) Vai já para a lista de links.

4.2.13

Pequenos grandes mundos

 Three machines that want to know, 60 x 45 x 13 cm, 2012

 Elevator 109 x 56 x 14 cm., 2012



O senhor nas imagens acima, que ainda por cima parece um Gepetto, chama-se Marc Giai-Miniet e é o autor destas boîtes maravilhosas. Preciso de uma, naturalmente, mas já me contento em olhar para as imagens.

1.2.13

Autores/tradutores defraudados por editoras/impostoras


Joao Tordo · 1,832 followers
6 hours ago ·
caríssimos: nas livrarias anda uma promoção de um livro meu, Hotel Memória, a um preço irrisório que vos peço que não comprem. A editora desse livro, a Quidnovi, nunca me pagou os direitos de autor que me deviam e, agora, estão a vender os meus livros ao desbarato. Ou seja: eu não recebo um tostão e uma editora que enganou vários autores continua a meter dinheiro ao bolso. Fiquem-se pelo "Ano Sabático", e pelas minhas edições na Dom Quixote, que ficam muito mais bem servidos. Obrigado!
 
As redes sociais também são para isto.

16.1.13

Booktrailers

Ninguém liga muito a vídeos que são apenas apresentações Powepoint com movimento. Quando carrego play e é um desses, sinto-me traída. Como não tenho visto muitos booktrailers bons, em geral não carrego no play. Porém, de vez em quando, vejo bons vídeos promocionais. Há uns mesmo bons. E há uns meeeeeeesmo bons, como é o caso deste:




Diria que este é o booktrailer do ano, mas 2013 ainda agora começou e gosto de ser surpreendida

Já agora, isto sim é um lançamento + reportagem de lançamento:


15.1.13

Versão asiática


Não é só cá que se faz má publicidade a livros...

4.1.13

Tempo para ler

Adoro quando as pessoas dizem que não têm tempo para ler livros quando, na verdade, o que não têm é interesse (elas próprias ou no mundo). Têm sempre tempo para estar ocupadas ou para se distrair com qualquer coisa que «descanse a cabeça», isso têm.
A provar mais uma vez que tudo isso é um disparate, Jeff Ryan, pai de filhos, marido de mulher e trabalhador a tempo inteiro, propôs-se ler um livro por dia em 2012: 366 livros em 366 dias. E conseguiu. O artigo, que conta como foi, está aqui e recomenda-se. Que sirva de inspiração.

Bom 2013!

1.1.13

2013

A aventura continua. Agora de tablet na mão.

18.12.12

Para quem gosta de papel

Há os perfumes e as cartas de direitos. Felizmente, há muitas maneiras de se gostar de uma coisa.

17.12.12

Livros no telemóvel

Há uns anos, disseram-me que os japoneses liam livros no telemóvel. Também me disseram que os seus livros eram impressos em papel de jornal e que os deitavam fora depois de os ler ou que os largavam algures num sítio público. Apegada que sou aos objectos, fiquei espantada, mas lá acreditei, por já conhecer a sua falta de espaço em casa e o seu desprendimento e sentido prático (para algumas coisas). Agora aquela do telemóvel é que eu não engolia. Era invenção. Eu, no meu pequeno ecrã verde com letras pretas aos cubinhos, pouco mais lia do que três linhas de SMS de cada vez como seria possível ler um livro ali? E como funcionaria? Pagava-se a uma entidade que nos ia enviando parágrafos em SMS? A caixa de mensagens não ficaria cheia?
O engano foi-se desfazendo devagar, aos bocadinhos, e lá fiquei a saber como era. Hoje, a pensar no que tinha lido neste ano que termina, apercebi-me de que li no telemóvel, entre metro e salas de espera, um livro que em papel tem 800 páginas, um outro de 500, indo a 20% de um terceiro, de 500. Não restam dúvidas, vivo no futuro.