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30.9.12

Avril au Portugal

Há tanto a dizer sobre isto! Os bancos de imagens, o funcionamento dos «ateliers», a manipulação de fotografias, as responsabilidades de um editor, a conturbada relação capa-conteúdo, a promoção de equívocos, o papel do humor na crítica, o diálogo do crítico com o autor... 
Gostaria de falar de tudo isto, mas, por ter muito que fazer (não é bem a novela ao lume, mas quase), só posso deixar uma pequena nota:

A editora e a equipa de Cayatte asnearam, António Araújo e muito bem apontou. O designer acusou o toque e respondeu. Óptimo. É este o efeito de uma boa crítica.
Há só um problema: a defesa de Cayatte deixa algo a desejar. Passando por cima dos aspectos «isso-não-é-uma-crítica-é-uma-ofensa» e outros, ao fim e ao cabo, o que diz é que lhe pareceu bem e aos seus clientes ilustrar um livro sobre o 25 de Abril com uma imagem do Maio de 68 porque, alegadamente, «Paris e o Maio de 68 são aí referência importante». António Araújo afirma que não, que não são referências na obra, e sou levada a acreditar.

Henrique Cayatte poderia ter dito outra coisa. Que tinha escolhido a imagem por ser evocativa da relação dos protagonistas, por não ter encontrado uma fotografia tão boa como essa, que estava ciente de que havia essa valente discrepância histórica e que a tinha assumido desde o início, que a escolhera por ser bonita, por funcionar na livraria ou por quaisquer outros motivos. A porca torce o rabo é quando se quer convencer o interlocutor de que o conteúdo do livro legitima o uso de uma imagem extemporânea. O livro chama-se Cinzas de Abril e é sobre um par que atravessa os dias da revolução em Portugal. Por muitas voltas que se dê, a acção não é sobre o par a atravessar o boulevard, a ponte 25 de Abril ou qualquer outro tempo ou lugar.

É um erro retratar ou simbolizar um acontecimento com a imagem de outro? Claro que é. Pode ser um erro que funcione visualmente e em termos de vendas, mas é um erro.
Uma capa não tem de ser, na maior parte dos casos, o resumo ou o espelho do conteúdo, mas, sempre que possível (e é sempre possível), não deve induzir em erro. Um editor, um autor e um designer, três cabeças a pensar, podiam ter pensado nisso. Não pensaram, daí a crítica. 

A coragem e a frontalidade de responder a uma crítica são atitudes muito louváveis, mas realmente louvável seria reconhecer que houve um deslize. Que o pé fugiu para o mercado, para o fácil ou para o agradável. Acontece. Às vezes, aos melhores.

Pode ser que a próxima resposta de Henrique Cayatte a António Araújo seja mais consistente. Pode ser que a próxima edição do livro saia com uma capa mais certeira.

1.8.12

Nível crítico: Panzer

António Araújo passa por cima de Domingos Amaral uma, duas, três e quatro vezes com um tanque de guerra. Vale a pena ler de fio a pavio a crónica deste desastre, a fazer lembrar a que Rogério Casanova dedicou a Margarida Rebelo Pinto. 

Claro que se pode discutir uma série de coisas e racionalizar o que se quiser, tendo sempre alguma ou muita razão. O certo é que sabe bem, de vez em quando, ver alguém chamar trampa à trampa. Essa confirmação faz-nos sentir um pouco menos loucos e um pouco menos sós.

Obrigada, AA, por um trabalho tão bem feito que fez com que a hilaridade superasse a depressão. Alguns dos seus trocadilhos mereciam ser tatuados.

29.2.12

Malomil

Estou in love e in awe com o blogue Malomil, que nos brinda com pérola trás de pérola. Os temas vão da política às letras, passando pelas artes gráficas. Os pontos de vista do autor, António Araújo, oscilam entre o ácido e o melancólico e são sempre interessantes. Se não acreditam, espreitem a sua rubrica «Histórias da realidade improvável», este post sobre as capas de Cândido da Costa Pinto para a Colecção Vampiro ou este, uma recordação de viagem.

5.10.11

Cerejas

A propósito disto, lembrei-me desta bela lista, que não tendo a ver até tem. Críticos, escritores, escritores críticos e críticos escritores, a que depois ainda se juntam leitores e não-leitores. Uma grande confusão. Geralmente acerca de nada. (Neste caso, de coisa nenhuma.)



William Faulkner sobre Ernest Hemingway:
“He has never been known to use a word that might send a reader to the dictionary.”

Ernest Hemingway sobre William Faulkner:
“Poor Faulkner. Does he really think big emotions come from big words?”

Guarda-livros

À imagem da nossa Livreira Anarquista (de férias?), também temos crónicas de biblioteca. Esta em particular = ♥♥♥♥♥. (Ah, e esta lista também é muito boa.)

20.5.11

ahahahahahahahahah

ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahah [pausa para respirar] ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahah ahahahahahahahahah [nova pausa] ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahah [recuperar o fôlego, respirar fundo e descansar].

Para quem não viu a graça nisto, pronto, leia isto. [Se sofre do coração, cuidado. Livreira anarquista, I heart you.]

8.12.10

&etc

A revolução está mesmo aí. A emitir directamente do subterrâneo, a &etc virtualizou-se. Ora sejam bem-vindos.

22.10.10

Ah, time flies

Já lá vão três!...

18.9.10

Inverter o processo

Manuel A. Domingos, entre outras coisas tradutor de Charles Bukowski e autor dos blogues meia noite todo o dia e o amor é um cão do inferno, dá destaque ao seu autor favorito nesta Alice #3. Todo o artigo tem interesse, mas é de salientar o seguinte poema:


se ensinasse escrita criativa, perguntou-me, o que lhes diria?

diria para terem um desgosto amoroso,
hemorróidas, dentes podres
beberem vinho barato,
evitar a ópera e o golfe e o xadrez,
mudarem a cabeça da cama
de parede para parede
e depois diria para terem
outro desgosto amoroso
e para nunca usarem computador
portátil,
evitarem almoços em família
ou serem fotografados num jardim
com flores;
para lerem Hemingway só uma vez,
passarem por Faulkner
ignorarem Gogol
verem fotografias da Getrude Stein
e lerem Sherwood Anderson na cama
enquanto comem bolachas de água e sal,
perceberem que as pessoas que falam de
liberdade sexual tem mais medo do que vocês.
para ouvirem E. Power Biggs a tocar
órgão na rádio enquanto enrolam
um Bull Durham às escuras
numa cidade desconhecida
com um dia para pagar a renda
depois de abandonar
amigos, família e trabalho.
para nunca se considerarem superiores e/
ou justos
e nunca tentar ser.
para terem outro desgosto amoroso.
observarem uma mosca no verão.
nunca tentar ter sucesso.
nunca jogar bilhar.
para se mostrarem verdadeiramente furiosos
quando descobrirem que têm um pneu furado.
tomarem vitaminas mas nunca fazer exercício físico.

depois disto tudo
inverter o processo.
ter um bom caso amoroso.
e aprender

que não há nada nem ninguém a saber tudo –

nem o Estado, nem os ratos
nem a mangueira do jardim nem a Estrela Polar.
e se algum dia me apanharem

a dar uma aula de escrita criativa

e lerem isto

eu dou-vos um 20

pelo cu

acima.

23.8.10

Grande oferta de livros do Bibliotecário de Babel

Foi tal e qual assim. Vista soberba, participantes animados.
Sugiro que da próxima vez juntemos mais pessoas com livros em excesso e que se organize uma manhã de trocas. Pode sempre acontecer que o que a mim não me interessa encha as medidas a outrem e vice-versa. Renovam-se os volumes nas estantes, respira-se ar puro e conhecem-se pessoas novas.