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2.12.13

Ser humano em Nova Iorque

"I've got a whole stack of books in my cart. Most of them are advance copies. I know a place where they get thrown out."
"How many books have you read?"
"Thousands."
"So why are you homeless?"
"I've tried to work a job a bunch of times. But then I get sad, and then I get high, and things fall apart."


Um de muitos, a propósito deste livro.

25.11.13

«Prestígio»

Como vemos pelo exemplo abaixo, os livros ainda são vistos como objectos de prestígio. Não sei porquê, isso não me anima.

Fig. 1: Montra da afamada Nespreso no grandioso edifício d'O Corte Inglês, na distinta Av. António Augusto Aguiar.




13.9.12

A mancha

Na passada sexta-feira, Philip Roth publicou na New Yorker uma carta aberta à Wikipédia. Ao que parece, o artigo relativo ao seu livro A Mancha Humana conteria um erro que o autor tentou remover sem sucesso. Os editores do artigo defendiam que a personagem principal do livro era baseada numa dada pessoa quando, afinal, se tratava de outra. O artigo, entretanto, já foi modificado e inclui, até, referência à carta aberta.

A carta de Roth é longa e pormenorizada. Demasiado longa, a meu ver. Li-a até ao fim apenas para tentar ver se, mais para a frente, o autor acrescentaria alguma coisa de interessante. Nem por isso. Os primeiros dois parágrafos são tudo quanto vale a pena. O resto é Roth a explicar-se ao mundo, qual vítima de um julgamento que nunca aconteceu. Os editores da Wikipédia, bem como alguns críticos, concluíram erradamente uma coisa. Acontece a toda a hora e ainda bem que o autor está vivo para repor a verdade. Porém, não é nenhum drama, nem justifica uma autópsia do romance em praça pública (Roth chega a contar o desfecho da obra). Bastaria relatar a troca de correspondência com o administrador da Wikipedia, dizer de sua justiça eu, Autor, afirmo isto e nego aquilo e seguir em frente, em direcção a coisas mais importantes.

Este texto parece-se com o livro: muito mais palavroso do que poderia ser, perdendo, assim, todo o interesse. (Ainda por cima, fiquei a saber que aquilo que romance tinha para mim de valioso o ponto de partida é, na verdade, não fruto da imaginação do autor, mas decalcado de factos reais. Um ponto a mais para a realidade, um ponto a menos para o autor.) Não terminei o livro, largando-o ao fim de 50 páginas (dei o benefício da dúvida até onde pude), precisamente por ele ter tudo a mais. Palavras a mais, parágrafos a mais, páginas a mais. Podia ser que o ritmo ajudasse à história, mas, até onde li, não.

Nem todos têm o dom da concisão, nem a concisão é sempre uma coisa boa, mas Roth é um chato. Quando se começa um artigo a questionar o papel do criador de uma obra face ao que os enciclopedistas virtuais alegam sobre essa obra, tocando num ponto sumarento “I understand your point that the author is the greatest authority on their own work,” writes the Wikipedia Administrator — “but we require secondary sources.” , não se pode não reflectir sobre isso e passar a descrever minudências: «I never took a meal with Broyard, never went with him to a bar or a ballgame or a dinner party or a restaurant, never saw him at a party I might have attended back in the sixties when I was living in Manhattan and on rare occasions socialized at a party.» A sério, Sr. Roth, vai enumerar todas as circunstâncias em que nunca se cruzou com o indivíduo em que alguns acreditam que o livro se baseou?

Outro ângulo interessante, que Roth não explora, claro, é o da coincidência entre o que aconteceu com o seu amigo Melvin, a pessoa em quem o protagonista do romance é baseado, e com Broyard, a pessoa em que a personagem poderia ter sido baseada. É preciso reconhecer as coincidências que deram origem à confusão. Não é incrível como, sendo todos nós tão diferentes, sejamos todos tão parecidos? Não é curioso que tenham existido na mesma altura diversas personagens, pelo menos duas reais e uma fictícia, a partilhar tantas semelhanças? Não é engraçado? E literário? É. Só Roth não é engraçado. Nem literário. 

26.7.12

Que farei quando tudo arde?

A temporada anual de incêndios faz-nos pensar. Na eficácia dos governos, no poder e na fragilidade da natureza, na nossa natureza, no que temos e no que perdemos, em quantos somos, no pouco e no muito que podemos.

Já todos nos perguntámos o que levaríamos connosco se um dia víssemos a nossa casa em chamas e tivéssemos de fugir. Não é um exercício tão fútil e tão raro quanto se possa julgar. A prová-lo, se precisássemos de mais provas, temos o livro The Burning House: What People Would Take if the House Was on Fire, um ensaio fotográfico sobre aquilo que mais nos pertence.


Espreitem aqui.

Há alguns hipsters, gente apegada aos seus Macs e às máquinas fotográficas (ou não retratassem amorosamente aquilo de que não se querem separar), há peluches antigos, livros e roupa. Até há um português. Mas há muito mais além disso. Estes montículos pessoais, amores portáteis, falam por si.

Pus-me a pensar no assunto e, apesar de a minha biblioteca conter algumas preciosidades, acho que não levaria nada de lá. Há muito mais vida além dos livros e, felizmente, ainda vivo num mundo em que há muitos e eles são quase todos substituíveis (não é, Sr. Bradbury?).

12.4.12

Livro fumável

E se achavam que estes dez livros eram bizarros, o que dizer da obra que reúne algumas letras do rapper Snoop Dog, totalmente feita de cânhamo?




Livros e cigarros, senhor Orwell? Pelos vistos, podem ser uma e a mesma coisa...

Se ficaram curiosos, espreitem a notícia, que inclui um vídeo do autor.

11.3.12

Winkingbooks



Para quem ainda não sabe, o site Winkingbooks é uma plataforma de troca de livros. De Saramago a  Stieg Larson, de George Steiner a Jorge de Sena, há lá um pouco de tudo. Parece-me um sistema relativamente justo (embora haja quem despeje livros miseráveis só para acumular pontos) e funciona bastante bem. Eu própria já agarrei boas oportunidades. Resumindo, recomendo.

25.10.11

Como se já não bastasse

Ter milhares de livros por ler e ainda haver outros tantos escondidos — eis uma lista de livros ficcionais dentro de livros (mais ou menos) reais.

À noite, entre os livros

Spike Jonze: Mourir Auprès de Toi on Nowness.com.

via S. :)

10.8.11

Duas más notícias e meia

Faço por me manter optimista, mas duas destas e mais meia daquela deixam qualquer um arrumado.



1. O Facebook não serve só para clubes do livro e afins, parece que a página «I Hate Reading» tem 437,800 likes. Podem ser miúdos parvos, convencidos de que são contracorrente (que ainda não descobriram que não há muitas coisas mais gostáveis e revolucionárias do que ler), mas ainda assim... (Daqui.)

2. O caso do Pequeno Gatsby. Há os digests, e depois há isto, uma coisa indescritível e alarmante. Eu não digo que ler (ler a sério, não falo de ler a sina nem o pacote de cereais) é um acto subversivo? Isto não é um resumo ou uma versão, é um atentado. E também não é uma alternativa inocente: além de estupidificante é, sobretudo, enganadora, pois traz o título original e o nome do autor na capa.
Se em tempos conseguir ler era difícil por não haver meios, parece-me que hoje o é por haver «demais».

3. Apesar das muitas lojas pilhadas em Londres, parece que as livrarias ainda estão intactas. A grande maioria dos cidadãos leitores não faria nada do género, mas os vândalos não têm curiosidade. Ainda bem?



Obrigada, S e P!

16.6.11

Os livros são quê?

Não me parece que venha a ter muito tempo nos próximos tempos. Contudo, tenho há muito a intenção de deixar aqui no blogue umas quantas ideias sobre edição e respectivos satélites. Alguns dos tópicos são a arte e o livro (ou vice-versa), o papel do editor, o que faz um assistente editorial ou a tentativa de provar que os livros não são/estão caros. Como tenho de começar por algum lado, escolho esse último tema: «Os livros são caros».


Não recuarei tanto a ponto de perguntar «o que é um livro?», mas há que restringir o âmbito para não perdermos o fio à meada. Para poupar tempo e avançar com a discussão, partamos do princípio de que estamos a falar de um objecto impresso com 200 páginas, de capa mole, com 24 cm de altura e 14 largura.

«Os livros são/estão caros.» - De que livros estamos a falar?

A meu ver, definitivamente, os livros não são/estão caros na sua generalidade; só alguns, especializados, estão mais inflacionados. Falo do livro técnico (compêndios médicos, manuais jurídicos, teses de doutoramento), talvez do escolar, e pouco mais. Nestes casos, a editora pode esticar a sua margem, pois sabe que há procura e que o público-alvo tem (ou tem de ter) poder de compra.

«Os livros são/estão caros.» - Para quem?

Não vivemos num país rico. Este não é um país grande, nem com muitos leitores. O facto de sermos pequenos a vários níveis condiciona os preços, pois há a questão da escala. Em França (país mais rico, com 62 milhões de habitantes e muitos leitores), as tiragens médias são três e quatro vezes as nossas (pois há, no mínimo, cinco vezes mais leitores), o que reduz dramaticamente o custo unitário, o que, por sua vez, se reflecte no preço final.
Num país como o nosso, o livro pode parecer um bem de luxo para alguns. Mas não é, e passo a explicar.

«Os livros são/estão caros.» - Em relação a quê?

Suponhamos que o livro de que acima falámos tem um preço de venda ao público de 20€ (para termos um número redondo). Partamos do razoável princípio que se lermos meia hora por dia, num mês temos o livro lido. Ora, 0,5 horas x 30 dias = 15 horas. 15 horas de entretenimento e/ou aprendizagem (caso o livro que tenhamos escolhido seja interessante e o tenhamos lido até ao fim). 20€ ÷ 15 horas = 1,33€. Que outra fonte de entretenimento/aprendizagem tem um valor por hora tão baixo? Talvez a televisão. Mas além do que pagamos por ela, toleramos anúncios e outros conteúdos que não nos interessam na maior parte do tempo. O cinema e o teatro, em comparação, parecem exorbitantes. Se além do espírito quisermos exercitar o corpo, um ginásio cobra-nos uma mensalidade que daria para comprar muitos livros.
Aqui, há que acrescentar que há centenas e centenas de bons livros a 6€ - o preço de um bilhete de cinema. 15€ é o preço de um jantar. 30€ são uns sapatos baratos. Um livro deu muito trabalho a confeccionar, é património que fica, ao qual se volta sempre que se quer, que pode ser legado, revendido, etc.
Quem não pode comprar as novidades caras, tem sempre livros em domínio público na internet, livros em segunda mão nos alfarrabistas, feiras do livro (com descontos de 20 a 50%) e, sobretudo, bibliotecas.
Curiosidade: por cada título que lança, a editora tem de dar ao Estado 11 exemplares para este os distribuir pelas bibliotecas mais importantes do país. Além da complexa tarefa de fabricar livros e tentar vendê-los, a editora cumpre ainda esta obrigação para com todos os cidadãos, que é disponibilizar-lhes, gratuitamente, o seu trabalho.

Analisemos agora alguns equívocos que pululam em conversas quotidianas.
O diálogo que se segue é real e foi tido no Facebook há umas semanas entre compradores de livros na casa dos 30 anos. São pessoas com formação superior e que lêem em inglês (uma minoria, se olharmos para as estatísticas do país). Opinam com base no seu senso comum e desconhecem a complexidade do funcionamento de uma editora. (Ah, e aquelas contas finais são um total disparate.)

XY: Fui comparar os preços dos livros comprados em promoção na feira do livro com os preços no book depository. Foram todos mais caros, e por 3 livros paguei 10 euros a mais, 67% mais caros... :(
BP: O q é o book depository?
RM: Pensa pela positiva, estimulaste a economia nacional comprando cá.
PA: Comparações com o Book Depository (site de venda de livros) são injustas. Está bem que o preço dos livros em Portugal deviam ser mais baixos, mas, desde que o preço seja razoável e sejam livros que encontro por cá, não me custa pagar mais uns euros, sem comparar com sites que sei que apresentam preços *muito* baixos.
BP: Obg. :)
JP: são injustas? como assim? os livros são os mesmos. mais uns euros? eu paguei mais 67% em livros que supostamente estavam em promoção. Imagino que se não estivessem em promo, custavam o dobro do preço. a unica injustiça seria para o bookdepository uma vez que é uma loja,
e não uma editora. Ao comprar directamente a uma editora, deveria estar a pagar menos por não haver intermediário.
TG: Conseguem ser mais baratos que na Amazon.co.uk.
PA: Quando as lojas portuguesas (cujos preços afectam certamente os que as próprias editoras praticam na Feira) venderem o mesmo volume que lojas online como o book depository e amazon, entao podemos ir olhar para o IVA dos livros e discutir se os preços em Portugal sao "justos". Até lá, as diferenças de preços parecem-me lógicas, apesar de poderem às vezes ser desanimadoras.
JP: não há uma discussão do IVA, uma vez que o IVA pago é o de Portugal, no bookdep como na Amazon. Vivemos numa economia global e numa união económica de livre comercio e concorrência, e se é igualmente fácil e a metade do preço comprar no bookdepository, eu nem vou pensar 2 vezes e comprar no Bookdep. os preços das editoras tem de ser competitivos com o resto das lojas que estão disponíveis ao consumidor, ou então tem que ganhar o dinheiro de outra forma, prestando outro tipo de serviços, melhor qualidade, alguma mais valia que justifique o dobro do preço.
PA: Tu não estás a comparar os preços de edições portuguesas com os das edições originais, pois não? É que só as diferenças de tiragens de uma versão USA do "The Road" com as da portuguesa afectarão bastante o preço base.
TG: P., os preços dos livros em Portugal podiam ser mais baratos. Segui de perto desde a escrita ate ao lançamento do livro de um amigo meu. 2E por livro vendido para o autor; 3.8E para a impressão; 0.3E por livro para a distribuição; 500E para o revisor; numa edicao de 3000 exemplares da 0.17E; e um preço de lançamento de 26E. 2E+3.8E+0.3E+0.17E=6.27E, sabendo que a livraria tinha um ganho de 15% sobre o preco de capa a editora tinha um lucro de 15.83E por livro. Mesmo que a editora so vendesse 75% dos livros o lucro seria de 10.30E por livro vendido.

Primeiro: Em Portugal temos a Lei do Preço Fixo, que, salvo excepções, não permite que um livro seja vendido com mais de 10% de desconto sobre o preço inicialmente fixado pela editora nos primeiros 18 meses após a sua publicação. No estrangeiro, o editor fixa um valor mas há liberalização do preço - os canais de venda podem escolher abdicar da sua margem de lucro para baixar o preço do livro e, assim, chamar mais clientes.
Segundo: O Bookdepository vende livros baratos (os de massas, sobretudo) porque estão na sua edição original, vendem para um mercado enorme e, o mais das vezes, em edições já de si baratuchas (paperbacks em papel cinzento, com letra miúda, etc.). Se compararmos os preço dos livros cartonados cá e lá, ficam quase sempre ela por ela.
Acresce a isto o facto de nem sempre querermos ler um livro na versão original e preferirmos a tradução. Compro livros na Amazon, onde encontro pechinchas, e no Bookdepository, onde não pago portes de envio, mas compro quase sempre livros nas nossas livrarias ou directamente aos editores (via site ou feira do livro). Tudo depende da ocasião, da oferta, do que for mais competitivo e do tempo que estou disposta a esperar.
Terceiro: A edição é um trabalho duro, a concorrência é feroz e a venda dos livros tem de pagar toda a estrutura da empresa. Se a editora não tem distribuição própria, tem de pagar a uma distribuidora que, juntamente com os canais de venda, fica com (praticamente) 60% da facturação (-6% IVA) e que não garante o armazenamento dos livros (encargo esse que, com o tempo, se torna monstruoso). Se tiver distribuição própria, tem de pagar salários a delgados comerciais e todo o custo da logística. Em Portugal, as livrarias ficam em média com 35-40% do PVP (-6% IVA). Repito: 35-40%. 50% no caso dos hipermercados. Os autores ficam, em média, com 10% do PVP (-6% IVA). Com o que sobra, o editor tem de pagar a renda, os salários, o trabalho de tradutores, revisores, paginadores e designers, gráficas, despesas correntes (telefones, manutenção do site, quotas de associado da APEL, ...), armazenamento dos livros, etc.
E a verdade é que muitas vezes as editoras perdem dinheiro com a publicação de um livro. Apostar na publicação de um autor implica riscos. Mesmo que uma editora não recupere o investimento que fez (ah, o break-even... essa miragem), tem de pagar royalties sobre os exemplares vendidos.
Portanto: Comparar realidades incomparáveis (preços dos livros de uma editora portuguesa numa livraria nacional vs livros na sua versão original numa livraria on-line no estrangeiro) é precipitado/injusto/preguiçoso/inútil/outro (riscar o que não se aplica).

As editoras põem comida no prato de muitas pessoas. O preço dessa cadeia de valor reflecte-se inevitavelmente no preço do livro para o consumidor. Ainda assim, se virmos bem, os preços praticados estão longe de ser abusivos.

«Os livros são/estão caros», passo a vida a ouvir. Na maioria dos casos será só mais uma desculpa como «não tenho tempo para ler».

21.5.11

Grande troca de livros - um balanço







Começou às 11h10 e durou até às 14h, altura em que fomos almoçar. As pessoas foram aparecendo, conversando, propondo trocas, apreciando a vista, bebendo refrescos na esplanada do quiosque. Fomos menos do que imaginara, mas correu às mil maravilhas. Ainda ofereci livros, recebi uns de bónus também. (A esperança de me desfazer do volume de livros não se cumpriu.) A qualidade da oferta presente surpreendeu: Maria Gabriela Llansol, John Cheever, Eça...
Livrei-me de: António Lobo Antunes, Miguel Sousa Tavares, Jorge de Sena, Süskind, entre outros. Trouxe: Breton, Mishima, Cesário Verde, livros de arte e design, um Saul Bellow, um Beatriz e Virgílio, um Prestígio, e muitos, muitos mais.
Fiquei com taaaantos ainda: Sade, Platão, Margarida Rebelo Pinto, O Mundo de Sofia, Henry Miller, Heidegger, romances históricos novos, uff!...
Para a próxima levo-os de novo a passear. Sim, porque espero que possamos repetir em breve, ainda com mais participantes. Que dizem? Para o mês que vem ou lá para Setembro?


5.12.10

Primeiras deleituras

A propósito de um artigo lido algures num blogue, dei por mim a recordar as minhas primeiras leituras. As primeiras foram-me feitas, claro, e delas não tenho muito mais além de vagas memórias. No percurso de autocarro até ao centro da cidade, a minha mãe entretinha-me com livros, quase sempre os mesmos. Desses, recordo os do Plum, quadrados, com páginas de cartão, de cuja colecção tinha três ou quatro títulos Os desenhos não me cansavam e o urso amarelo das histórias condizia com um boneco de peluche que tinha. (Será por isso que a minha cor preferida, no abstracto, é o amarelo?) Entre estes livros – para leitores de 2/3 anos – e os da Anita e afins – que, por essa altura, já lia sozinha –, houve dois que recordo com especial intensidade e ternura.
Um é O meu amigo elefante: viagem à Índia, repleto de aguarelas saídas de um sonho, que conta a história de um rapazinho que se despede dos pais para participar no festival anual de elefantes, em Jaipur. O exotismo da aventura e a singeleza da história são encantadores.
Outro é Tuqui Aviador, em que Tuqui, a personagem principal, compra um avião no ferro-velho e o restaura, pintando-o de amarelo (!). Tuqui é um cão, os melhores amigos um coelho e uma gata. O sucateiro é um rato e pelo meio da história há um agricultor surpreendido e uma dona de casa zangada por lhe terem levado o estendal. O cenário é totalmente campagne, o texto é em rima e fala-se em fuselagem. Foi a esta palavra que me agarrei, segundo me contam. «Ó mãe, o que é fuselagem?» E quem diz fuselagem diz outras coisas, como croissant. Terá sido por volta desta idade que comecei a descobrir o inesgotável interesse das palavras (e o apetite que algumas geram).
Em baixo fica uma amostra:


Curiosidade: http://www.leitura.gulbenkian.pt/index.php?area=rol&task=view&id=16840

22.10.10

Tinta permanente

Já conhecia o Contrarywise, mas não o blogue Tatoolit, que deu origem a este livro, The Word Made Flesh:


Agora não sei o que quero, se o livro, se uma tatuagem gira ou os dois. (Pfff... como se eu algum dia conseguisse decidir o que tatuar e tivesse coragem para levar a ideia avante.)

PS: Belo brooktrailer!