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23.2.13

Ao quadrado

Já se sabe que as novidades se sucedem a uma velocidade superior à da luz e que, de tão difíceis de acompanhar, por vezes desistimos de o fazer ou sequer de as assinalar. Desta vez vale a pena parar e dizer: há duas novas, e das boas. Uma, a revista Papel, sai às quintas e, editada por uma inglesa, está cheia de bom português. A segunda, que conheci poucos dias depois, é a Forma de Vida, bimestral, é toda ensaios e conversas. Ambas, curiosamente, com quadrados coloridos no rosto. A explorar devidamente, cada uma a seu ritmo.


PS: Ah, quase me esquecia (mas como se não soubessem já...), a Granta está à porta. 
PS2: Ia-me esquecendo outra vez! Na altura não noticiei, que estava ocupada, mas há uns meses nasceu o Edição Exclusiva, um blogue sobre a edição em Portugal. Tomem nota, que vale a pena seguir. (Apesar do subtítulo nada pretensioso, tem algumas reflexões bem interessantes.) Vai já para a lista de links.

20.6.12

π-ssoa

Pessoa é infinito. Dá para tudo e para todos. O de Cavalcanti, além de poeta, é vaidoso, caloteiro, inventor dos matraquilhos (?!) e provavelmente gay
Depois desta entrevista, fiquei curiosa: saberia o brasileiro bonacheirão do que falava? O que é verdade e o que é invenção? Não corri para a livraria porque a ideia de alguém se aventurar, ao longo de 700 páginas, a imitar o estilo de Pessoa (as if) me deixou com fastio logo ali. Aguarde-se pela crítica, nesse caso. E ela chegou. Nas linhas que imaginei, mas muito mais demolidora do que poderia supor, Teresa Rita Lopes arrasa o livro, e o autor (ou co-autor?, cristo!), numa penada.
Eis o texto, que merece leitura integral: Incompreender Pessoa
Hoje, o Ípsilon, suplemento onde saiu a crítica de TRL, anuncia no seu Facebook que Cavalcanti terá espaço para uma carta-resposta na próxima edição em papel. 

São coisas destas que vendem jornais. Intelectual de mão na anca põe tudo a ler. Haja coragem de lavar a roupagem em praça pública, desde que se o faça com graça. Venham as polémicas! De preferência com elevação, mas se for mais pedestre o povo também não reclama. O que é preciso é mexer, debater e ter opinião. Eu sou team TRL, mas estou desejosa que me contradigam.


Cronologia:
5 de Abril - Blogue «Um Fernando Pessoa» faz uma apreciação crítica do livro (a meu ver, equilibrada).
20 de Abril - O autor é entrevistado pelo Sol.
26 de Abril - O livro é apresentado na Casa Fernando Pessoa.
4 de Maio -  Teresa Rita Lopes psicografa uma carta de Álvaro de Campos sobre a biografia.
6 de Maio - É emitida a entrevista ao autor na TVI24.
9 de Maio - O autor responde à carta de TRL.
25 de Maio - TRL publica a sua crítica no Ípsilon.
31 de Maio - Nova carta psicografada por TRL.
16 de Junho - Richard Zenith divulga no suplemento Q informações importantes.
16 de Junho - TRL, no DN, tem novo texto sobre o assunto.
22 de Junho - Sairá carta do autor no Ípsilon. Aguardemos.

18.11.11

Crises

Há dez anos era assim:

Fala-se de crise da edição portuguesa e, pela primeira vez nos últimos dez anos, quase abertamente. Um inquérito recente aos editores, publicado no Jornal de Letras a esse propósito, dá bem a ideia de que existem razões para temer as consequências destes tempos, já que o futuro é sempre optimista. Há dados que convém ter em atenção: cento e cinquenta livrarias encerraram as suas portas desde o início de 1991 até aos últimos meses do ano; o número médio de venda de cada título posto à disposição dos leitores portugueses baixou consideravelmente no mesmo período, acelerando uma tendência que já se registava desde há alguns tempos; alguns editores tomaram medidas que evidenciam uma disposição clara de desinvestir, e outros preparam-nas. Nada que não tenha acontecido em sectores diversos da vida económica portuguesa, com a diferença óbvia de, nestes casos, existir uma preocupação do Estado no sentido de possibilitar saídas para as crises que se manifestaram ou manifestam.
No caso da edição, a  situação é bem diferente. O Estado português faz aprovar um Acordo Ortográfico sem ter em conta a opinião dos editores portugueses, manifestamente contrária; uma lei como a do preço fixo, que pode vir a revelar-se disciplinadora do mercado livreiro tarda em ser discutida e publicada. Exemplos colhidos de entre aqueles que convém ter em mente no início de 1992 e da adesão plena de Portugal à CEE, como reza o lugar-comum.
A vida em geral não é simples, mas a vida da edição, essa torna-se cada vez mais perigosa.

Francisco José Viegas, no editorial da Ler n.º 17, em 1992.

17.10.10

Nós por lá

«Crítica» ao Livro do Dessassossego, de Fernando Pessoa, no Guardian. (Não lhe faz justiça, mas any publicity is good publicity.)

19.9.10

Crítica

Na revista online de filosofia Crítica, Aires Almeida acaba de publicar um interessantíssimo artigo sobre alguns maus hábitos enraizados na edição portuguesa, cuja leitura e discussão se recomenda vivamente.

Aborda quatro pontos:
  • O facto de se chamar segunda/terceira/... edição ao que é, na verdade, uma reimpressão.
Trata-se de um erro tão generalizado que, creio, nem os editores pretendem enganar ninguém com isso, nem os leitores são com isso enganados. Se numa obra académica, de facto, falar de edições levanta dúvidas (o que não é de somenos...), regra geral ninguém parte do princípio que Dan Brown alterou trinta vezes o Código da Vinci. Além disso, quando se trata de uma edição revista, os editores costumam chamar a atenção para esse facto em particular.
  • A fraquíssima qualidade de algumas traduções, que tanto(s) prejudicam e que não tinham de ser tão más.
Fui vítima, aliás, do mesmo logro relatado. Comprei o livro e não consegui passar da terceira página, tão intragável estava a tradução, levada a cabo, verifiquei em seguida, por uma empresa que presta esse tipo de serviços e que, provavelmente, encarrega várias pessoas de traduzir partes do mesmo texto.
Neste ponto, partilho com Aires de Almeida, além da imensa frustração, a total perplexidade perante tal mau passo por parte da editora. A elaboração de um livro representa um grande investimento e nenhuma parte da sua concepção deve ser descurada. Se se trata de uma tradução, garantir a qualidade do texto é essencial (até porque, num mundo globalizado com leitores poliglotas que fazem compras via internet, a versão portuguesa terá também de competir com a original). Porquê deitar tudo a perder com uma negligência deste calibre? Volta e meia dou por mim a pensar se não devo devolver-lhes o livro e pedir o dinheiro de volta...
  • O facto de habitualmente se menosprezar, em Portugal, a questão do índice.
Os índices são uma ferramenta indispensável e há que olhar sempre para as opções do autor e do editor original, no caso de este último existir. Faz parte da função do editor salvaguardar e valorizar o mais possível a experiência de leitura do leitor final (melhorando, inclusivamente, o que houver a aperfeiçoar).* Suprimir índices e mudá-los de sítio arbitrariamente, tal como não os completar com o rigor desejável, é, no mínimo, uma irresponsabilidade. E os leitores reparam sempre.
  • O quarto aspecto focado no artigo é transversal a estas três observações: a constatação de uma frequente falta de profissionalismo por parte das editoras e da recorrente falta de exigência por parte dos leitores (a meu ver, correlativas).

Acredito que quase todos os lapsos editoriais deste género se devem a ignorância, arrogância e urgência. Resumindo: incompetência e/ou desprezo pelos leitores. Uma conclusão dura, e triste, mas que não pode deixar de ser tirada.


*Pessoalmente, sou adepta da norma do índice de conteúdos no início (momento em que se expõe o esqueleto e o rumo do livro) e da colocação de todos os outros índices (remissivo, etc.) no fim. Um dia destes escrevo qualquer coisa sobre a grande importância do índice.

18.9.10

Inverter o processo

Manuel A. Domingos, entre outras coisas tradutor de Charles Bukowski e autor dos blogues meia noite todo o dia e o amor é um cão do inferno, dá destaque ao seu autor favorito nesta Alice #3. Todo o artigo tem interesse, mas é de salientar o seguinte poema:


se ensinasse escrita criativa, perguntou-me, o que lhes diria?

diria para terem um desgosto amoroso,
hemorróidas, dentes podres
beberem vinho barato,
evitar a ópera e o golfe e o xadrez,
mudarem a cabeça da cama
de parede para parede
e depois diria para terem
outro desgosto amoroso
e para nunca usarem computador
portátil,
evitarem almoços em família
ou serem fotografados num jardim
com flores;
para lerem Hemingway só uma vez,
passarem por Faulkner
ignorarem Gogol
verem fotografias da Getrude Stein
e lerem Sherwood Anderson na cama
enquanto comem bolachas de água e sal,
perceberem que as pessoas que falam de
liberdade sexual tem mais medo do que vocês.
para ouvirem E. Power Biggs a tocar
órgão na rádio enquanto enrolam
um Bull Durham às escuras
numa cidade desconhecida
com um dia para pagar a renda
depois de abandonar
amigos, família e trabalho.
para nunca se considerarem superiores e/
ou justos
e nunca tentar ser.
para terem outro desgosto amoroso.
observarem uma mosca no verão.
nunca tentar ter sucesso.
nunca jogar bilhar.
para se mostrarem verdadeiramente furiosos
quando descobrirem que têm um pneu furado.
tomarem vitaminas mas nunca fazer exercício físico.

depois disto tudo
inverter o processo.
ter um bom caso amoroso.
e aprender

que não há nada nem ninguém a saber tudo –

nem o Estado, nem os ratos
nem a mangueira do jardim nem a Estrela Polar.
e se algum dia me apanharem

a dar uma aula de escrita criativa

e lerem isto

eu dou-vos um 20

pelo cu

acima.

13.9.10

Alice #3

A revista Alice #3 já está disponível. Mais um grande número, com especial destaque para a entrevista a Manuel Monteiro, revisor de profissão.