No outro dia, parada num semáforo, olhei para a esquerda e dei de caras com um cartazinvulgar. Semicerro os olhos e percebo que é obra do Mário Feliciano, um dos mais conceituados tipógrafos portugueses, fundador da Feliciano Type Foundry. Fazendo uma pesquisa rápida, descobri que o outdoor que faz parte de uma iniciativa que envolve 18 artistas. É bom ver um tipógrafo entre eles, é bom ver letras à solta na cidade.
Não sei se já retiraram os cartazes (deixam tanto tempo os das campanhas eleitorais, bem podiam deixar estes...), mas o percurso está descrito aqui.
Font, or Fount. A complete set of type of the same body and face with all the points, accents, figures, fractions, signs, etc., that ordinarily occur in the printed books and papers. A complete fount (wich includes italics) comprises over 200 separate pieces of type, without the special characters needen in almanacs, astronomical and medical works, etc. The word os French, fonte, from fondre (to melt or cast).
Um dos tipos mais disseminados e repudiados de sempre revolta-se e responde à letra: um monólogo imperdível, que inclui pérolas como Need to soften the blow of a harsh message about restroom etiquette? SLAM. There I am.
E o Comic Sans bem precisa de defesa...
Criado em 1994 por Vincent Connare para a Microsoft, foi um sucesso imediato. Inspirado na caligrafia da banda desenhada, Connare criou-o para evitar usar Times New Roman num balão de diálogo. Porém, o uso indiscriminado de caracteres com esta forma por toda a parte levou a que pessoas sensíveis a pormenores passassem a detestar o Comic Sans. Hoje, conotado com falta de maturidade e de elegância, é símbolo da má utilização de um tipo. O sitehttp://bancomicsans.com/, e o movimento a ele associado, ilustra bem a aversão que se gerou, especialmente por parte de designers. Mas este não é um assunto debatido apenas por minorias. Na semana passada, um treinador desportivo norte-americano escreveu uma carta aberta usando Comic Sans. As suas declarações eram bombásticas, mas o que reteve a atenção do público foi o tipo de letra escolhido. Os leitores questionaram a seriedade das intenções do autor e troçaram imediatamente da sua opção tipográfica, fazendo disso um dos assunto mais comentados on-line nos Estados Unidos(notícia). Por outro lado, se um tipo de letra conquista tamanha preferência, será que não tem mesmo alguma coisa de especial? Connare carrega o fardo da sua sua criação e, sobre o seu Frankenstein, diz-nos: If you love it, you don't know much about typography, if you hate it, you really don't know much about typography, either, and you should get another hobby.
Para o melhor e para o pior, que não se duvide do poder de um tipo de letra.
PS: Se está a pensar escrever a uma editora, não o faça usando Comic Sans. Dificilmente será levado a sério.