Chegou-me às mãos este livro, um levantamento (longe de exaustivo) de obras cuja circulação esteve proibida durante a ditadura. Entre elas encontramos títulos inevitáveis, como os de Karl Marx ou os de Henry Miller, mas também outros bastante surpreendentes, como um estudo de Pavlov. Livros sobre planeamento familiar, outros sobre o surrealismo, escritos de Agostinho da Silva ou de Bertrand Russel, havia um pouco de tudo na «Relação». Os Capitãs da Areia, de Jorge Amado, estava banido, assim como textos de Baudelaire, de Steinbeck e de Herberto Helder.
Não se estranha que um regime totalitário queira proibir obras de natureza explicitamente política — Tomaz da Fonseca é o campeão, com 16 livros interditos —, mas ficamos a perceber a força (também política, ou eminentemente política) da literatura quando, em estado puro, ela é suficiente para intimidar o censor, necessariamente um ignorante.
Em baixo estão três imagens de um Auto de Busca e Apreensão, de 1965, que ilustra como estas operações afectavam as editoras. (Para ampliar basta clicar na imagem.)(últimas linhas sumidas no original)
Sublinhe-se que, além se apreenderem diversos títulos — aqui, por exemplo, são contemplados vinte e um, em que se incluem História Universal da Infâmia, de J.L. Borges, e Não Matem a Cotovia, de Harper Lee —, eram levados «para averiguação» todos os exemplares (neste caso, quase 15.000 exs.).
Dezenas de editoras viram-se directamente lesadas pela censura; indirectamente, fomos todos nós. Que as infâmias da História fiquem na História.
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