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2.10.12

Exactitudes

A fazer lembrar capas de livros:


Mais aqui.




30.9.12

Avril au Portugal

Há tanto a dizer sobre isto! Os bancos de imagens, o funcionamento dos «ateliers», a manipulação de fotografias, as responsabilidades de um editor, a conturbada relação capa-conteúdo, a promoção de equívocos, o papel do humor na crítica, o diálogo do crítico com o autor... 
Gostaria de falar de tudo isto, mas, por ter muito que fazer (não é bem a novela ao lume, mas quase), só posso deixar uma pequena nota:

A editora e a equipa de Cayatte asnearam, António Araújo e muito bem apontou. O designer acusou o toque e respondeu. Óptimo. É este o efeito de uma boa crítica.
Há só um problema: a defesa de Cayatte deixa algo a desejar. Passando por cima dos aspectos «isso-não-é-uma-crítica-é-uma-ofensa» e outros, ao fim e ao cabo, o que diz é que lhe pareceu bem e aos seus clientes ilustrar um livro sobre o 25 de Abril com uma imagem do Maio de 68 porque, alegadamente, «Paris e o Maio de 68 são aí referência importante». António Araújo afirma que não, que não são referências na obra, e sou levada a acreditar.

Henrique Cayatte poderia ter dito outra coisa. Que tinha escolhido a imagem por ser evocativa da relação dos protagonistas, por não ter encontrado uma fotografia tão boa como essa, que estava ciente de que havia essa valente discrepância histórica e que a tinha assumido desde o início, que a escolhera por ser bonita, por funcionar na livraria ou por quaisquer outros motivos. A porca torce o rabo é quando se quer convencer o interlocutor de que o conteúdo do livro legitima o uso de uma imagem extemporânea. O livro chama-se Cinzas de Abril e é sobre um par que atravessa os dias da revolução em Portugal. Por muitas voltas que se dê, a acção não é sobre o par a atravessar o boulevard, a ponte 25 de Abril ou qualquer outro tempo ou lugar.

É um erro retratar ou simbolizar um acontecimento com a imagem de outro? Claro que é. Pode ser um erro que funcione visualmente e em termos de vendas, mas é um erro.
Uma capa não tem de ser, na maior parte dos casos, o resumo ou o espelho do conteúdo, mas, sempre que possível (e é sempre possível), não deve induzir em erro. Um editor, um autor e um designer, três cabeças a pensar, podiam ter pensado nisso. Não pensaram, daí a crítica. 

A coragem e a frontalidade de responder a uma crítica são atitudes muito louváveis, mas realmente louvável seria reconhecer que houve um deslize. Que o pé fugiu para o mercado, para o fácil ou para o agradável. Acontece. Às vezes, aos melhores.

Pode ser que a próxima resposta de Henrique Cayatte a António Araújo seja mais consistente. Pode ser que a próxima edição do livro saia com uma capa mais certeira.

Romance histórico


13.9.12

A mancha

Na passada sexta-feira, Philip Roth publicou na New Yorker uma carta aberta à Wikipédia. Ao que parece, o artigo relativo ao seu livro A Mancha Humana conteria um erro que o autor tentou remover sem sucesso. Os editores do artigo defendiam que a personagem principal do livro era baseada numa dada pessoa quando, afinal, se tratava de outra. O artigo, entretanto, já foi modificado e inclui, até, referência à carta aberta.

A carta de Roth é longa e pormenorizada. Demasiado longa, a meu ver. Li-a até ao fim apenas para tentar ver se, mais para a frente, o autor acrescentaria alguma coisa de interessante. Nem por isso. Os primeiros dois parágrafos são tudo quanto vale a pena. O resto é Roth a explicar-se ao mundo, qual vítima de um julgamento que nunca aconteceu. Os editores da Wikipédia, bem como alguns críticos, concluíram erradamente uma coisa. Acontece a toda a hora e ainda bem que o autor está vivo para repor a verdade. Porém, não é nenhum drama, nem justifica uma autópsia do romance em praça pública (Roth chega a contar o desfecho da obra). Bastaria relatar a troca de correspondência com o administrador da Wikipedia, dizer de sua justiça eu, Autor, afirmo isto e nego aquilo e seguir em frente, em direcção a coisas mais importantes.

Este texto parece-se com o livro: muito mais palavroso do que poderia ser, perdendo, assim, todo o interesse. (Ainda por cima, fiquei a saber que aquilo que romance tinha para mim de valioso o ponto de partida é, na verdade, não fruto da imaginação do autor, mas decalcado de factos reais. Um ponto a mais para a realidade, um ponto a menos para o autor.) Não terminei o livro, largando-o ao fim de 50 páginas (dei o benefício da dúvida até onde pude), precisamente por ele ter tudo a mais. Palavras a mais, parágrafos a mais, páginas a mais. Podia ser que o ritmo ajudasse à história, mas, até onde li, não.

Nem todos têm o dom da concisão, nem a concisão é sempre uma coisa boa, mas Roth é um chato. Quando se começa um artigo a questionar o papel do criador de uma obra face ao que os enciclopedistas virtuais alegam sobre essa obra, tocando num ponto sumarento “I understand your point that the author is the greatest authority on their own work,” writes the Wikipedia Administrator — “but we require secondary sources.” , não se pode não reflectir sobre isso e passar a descrever minudências: «I never took a meal with Broyard, never went with him to a bar or a ballgame or a dinner party or a restaurant, never saw him at a party I might have attended back in the sixties when I was living in Manhattan and on rare occasions socialized at a party.» A sério, Sr. Roth, vai enumerar todas as circunstâncias em que nunca se cruzou com o indivíduo em que alguns acreditam que o livro se baseou?

Outro ângulo interessante, que Roth não explora, claro, é o da coincidência entre o que aconteceu com o seu amigo Melvin, a pessoa em quem o protagonista do romance é baseado, e com Broyard, a pessoa em que a personagem poderia ter sido baseada. É preciso reconhecer as coincidências que deram origem à confusão. Não é incrível como, sendo todos nós tão diferentes, sejamos todos tão parecidos? Não é curioso que tenham existido na mesma altura diversas personagens, pelo menos duas reais e uma fictícia, a partilhar tantas semelhanças? Não é engraçado? E literário? É. Só Roth não é engraçado. Nem literário. 

12.9.12

Context first


Nesta palestra, apresentada numa conferência TOC for Publishing, Brian O'Leary fala de uma mudança necessária e inevitável. Não de formatos, de paradigma.
É tudo como diz? Vai ser como prevê? Creio que em boa parte sim, mas preciso de mais tempo para responder. As mudanças são tão velozes e, por vezes, tão inesperadas, que até uma teoria sobre elas parece demasiado definitiva.

10.9.12

Como ganhar uma discussão sobre livros electrónicos

Não tenho grandes dúvidas de que os dois formatos são diferentes mas compatíveis. No entanto, todos os dias oiço e leio discussões quanto ao melhor formato ou ao formato que sairá vitorioso. Sente-se mais grego ou mais troiano? Espreite aqui.

5.9.12

Cortázar

«Numa aldeia da Escócia vendem-se livros com uma página em branco, página perdida num lugar qualquer do volume. Se o leitor der com essa página às três da tarde, morre.»

Histórias de Cronópios e de Famas, com tradução de João Alfacinha da Silva ().

4.9.12

De volta

Uns dias em praias espanholas encheram-me de alegria ao ver o futuro: toldo sim, toldo não, gente com um livro nas mãos. (Isso e boliñas.) E quando não eram em papel eram electrónicos. Foi bonito. Já tenho saudades do futuro.

2.8.12

(N. do T.)

Estou a ler o Moby Dick e a gostar, naturalmente (embora lhe fizesse uns cortes aqui e ali). Encontrei num alfarrabista uma bela edição, da Estúdios Cor, com tradução de Alfredo Margarido e Daniel Gonçalves. 

Estas traduções antigas são a minha madalena. Há cinquenta anos o vocabulário era outro e isso muda tudo. Enquanto leio vou recuando no tempo e a viagem desculpa as vírgulas mal colocadas e quaisquer outras atribulações menores. Além disso, as marcas dos chumbos tipográficos saltam à vista e essa artesanalidade dá um quentinho extra à leitura. Cresci com a colecção «Dois Mundos» e a minha Mafalda é a das traduções dos anos 70, talvez a nostalgia venha daí. Mas adiante.

A tradução está bem feita e a primeira gralha só a encontrei lá para a página 80. Não sou defensora acérrima de um tipo particular de tradução — mais próxima da língua de partida ou da de chegada, com o tradutor mais discreto ou mais à vista —, ela tem é de ser competente e a adequada para o livro em causa. Neste caso particular, estou bastante ciente da presença do tradutor, que me tem feito uma agradável companhia. Aquilo por que não esperava era que ele se pusesse a dizer de sua justiça quanto ao autor, a outros tradutores ou à literatura em geral. Ora espreitem:



Eis o parágrafo a que a nota diz respeito:


Já vi, e até já fiz, muita coisa fora do normal, mas opinar desta maneira é para mim uma novidade. Não me incomodou minimamente, mas fiquei espantada, pois este género de considerações costuma pertencer aos bastidores.
Resta saber qual dos dois, AM ou DG, foi o atrevido.*

Para terminar, deixo-vos uma das muitas pérolas de Melville neste clássico:




* Costumava achar que as obras com dois ou mais tradutores eram feitas em colaboração, lado a lado, devido à complexidade do original. Entrando para a edição, rapidamente me desenganei trata-se quase sempre de uma divisão geométrica.


PS: Se fosse vivo, o senhor Melville teria feito ontem 193 anos.

1.8.12

Nível crítico: Panzer

António Araújo passa por cima de Domingos Amaral uma, duas, três e quatro vezes com um tanque de guerra. Vale a pena ler de fio a pavio a crónica deste desastre, a fazer lembrar a que Rogério Casanova dedicou a Margarida Rebelo Pinto. 

Claro que se pode discutir uma série de coisas e racionalizar o que se quiser, tendo sempre alguma ou muita razão. O certo é que sabe bem, de vez em quando, ver alguém chamar trampa à trampa. Essa confirmação faz-nos sentir um pouco menos loucos e um pouco menos sós.

Obrigada, AA, por um trabalho tão bem feito que fez com que a hilaridade superasse a depressão. Alguns dos seus trocadilhos mereciam ser tatuados.

26.7.12

Que farei quando tudo arde?

A temporada anual de incêndios faz-nos pensar. Na eficácia dos governos, no poder e na fragilidade da natureza, na nossa natureza, no que temos e no que perdemos, em quantos somos, no pouco e no muito que podemos.

Já todos nos perguntámos o que levaríamos connosco se um dia víssemos a nossa casa em chamas e tivéssemos de fugir. Não é um exercício tão fútil e tão raro quanto se possa julgar. A prová-lo, se precisássemos de mais provas, temos o livro The Burning House: What People Would Take if the House Was on Fire, um ensaio fotográfico sobre aquilo que mais nos pertence.


Espreitem aqui.

Há alguns hipsters, gente apegada aos seus Macs e às máquinas fotográficas (ou não retratassem amorosamente aquilo de que não se querem separar), há peluches antigos, livros e roupa. Até há um português. Mas há muito mais além disso. Estes montículos pessoais, amores portáteis, falam por si.

Pus-me a pensar no assunto e, apesar de a minha biblioteca conter algumas preciosidades, acho que não levaria nada de lá. Há muito mais vida além dos livros e, felizmente, ainda vivo num mundo em que há muitos e eles são quase todos substituíveis (não é, Sr. Bradbury?).

5.7.12

Valha-nos S. Gutenberg!

A Sociedade Bíblica é o exemplo perfeito de uma empresa que vive de um único produto. Nada de muito surpreendente, não fosse uma editora. Como têm de vender muito de um só produto (em vez de pouco de muitos, o modelo de negócio da maioria das editoras), têm de ser criativos e explorar variações. 
Lançaram A Bíblia do Surfista, oferecem vários tipo de encadernação, da ganga à camurça cor-de-rosa, e promovem uma aplicação que permite ler a Bíblia no telemóvel. Mas aquilo por que ninguém esperava era esta última inovação...


De facto, na Bíblia, há coisas para todos os gostos. Mal posso esperar pela colecção de histórias de suspense, em que irmãos matam irmãos, etc.

30.6.12

Planos para o fim-de-semana

Diz que há lá uma pessoas que põem coisas bonitas no papel.



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PS: por falar em pôr coisas no papel... ó eu, na maravilhosa Oficina do Cego.

28.6.12

Por que escrevo

Subscrevemos os mesmos sites, de certeza, porque eu ia fazer um post com isto e o autor do blogue Malomil antecipou-se. Ora espreitem.

Giro, não é? 

Conheço bem o Por que escrevo e outros ensaios, publicado entre nós pela Antígona, e os outros timeless insights on writing. O que este texto da Atlantic me lembrou foi de uma coisa extraordinária (para mim, claro): que não tenho motivo para escrever. Além de uma vaga necessidade de «pôr cá para fora» (vulgar, eu sei) como quem tem de vomitar de vez em quando* (desculpem-me, leitores mais sensíveis), de desenrolar uma meada interna, e do prazer de descobrir coisas que não sabia que tinha cá dentro, de ver as rodas dentadas a mexerem sozinhas, não há nada que justifique esta coisa de pôr as mãos à obra.

No ego, no beauty, no purpose. Não o faço para mostrar, não o faço para mudar o mundo, não me delicio com o fôlego estético do que gero, nem, pelo menos de momento, tenho um patamar imposto a que chegar. Talvez por isso saiba tão bem.

Se tivesse um objectivo, isso podia acabar com a graça. Numa vida de prazos, orçamentos, correcções, comparações, grelhas, burocracia, actas e pastilhas que tais, ler e escrever sem rumo são coitos. Aqui não vale, ninguém me apanha, as regras não se aplicam. No jogo do mundo**, às vezes sabe bem não participar.

Que eu saiba, não escrevo por nada, para nada, escrevo porque escrevo. Pode ser que isso mude, pode ser que não. E não saber por que escrevo é em boa parte motivação para escrever.
Se um dia descobrir uma razão concreta, aviso. Mas espero continuar na ignorância.

Tantos conselhos, tantas regras, tantas opiniões. Gosto muito, mas não me adapto a metade, se tanto. Para todas as perguntas que me fizerem acerca da escrita, a resposta será quase sempre «não sei», ou então formulada de improviso. Quando começo a achar alguma coisa, no dia seguinte desengano-me. Não escrevo escrevo; invento uma coisas, sem saber para onde vou. 

Isto tira valor ao que faço? Adivinhem a resposta: não sei. Acho que não, mas não estou interessada em saber; porque não importa.


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No fim de tantos conselhos sábios de tantos veneráveis, há ainda espaço para as minhas duas únicas humildes achegas, que nunca li em lado algum.
Gente que escreve ou pensa em escrever: tenham a coragem de não saber (quer queiram saber ou não) e a coragem de pôr os pés ao caminho apesar de não saberem.


* Coelhinhos de Cortázar. :)
** Segunda referência involuntária a Cortázar.

26.6.12

Fifty Shades of qualquer coisa

Para quem ainda não sabe, o livro Fifty Shades of Gray é uma obra de fanfiction com base universo Crepúsculo (sim, aquele dos vampiros). Apresenta-se como literatura erótica e chegou aos tops de vendas, muito graças ao anonimado que o download de livros electrónicos permite. 
Não li, nem preciso; esta crítica chega e sobra para me esclarecer e fazer chorar de tanto rir. Mas, entretanto, ficam algumas questões no ar: Será a fanfiction legítima? Até que ponto se pode reciclar uma receita?


21.6.12

Imaginário

Ben West e Felix Heyes acabam de lançar o Google Book, um dicionário de imagens. Pegaram nas 21 000 palavras de um dicionário, pesquisaram imagens no Google e «dicionarizaram» a primeira que apareceu. Eis o resultado:



Definitivamente, ceci n'est pas un e-book.

Podem ler mais sobre o assunto aqui

PS: Gosto especialmente da capa.

20.6.12

π-ssoa

Pessoa é infinito. Dá para tudo e para todos. O de Cavalcanti, além de poeta, é vaidoso, caloteiro, inventor dos matraquilhos (?!) e provavelmente gay
Depois desta entrevista, fiquei curiosa: saberia o brasileiro bonacheirão do que falava? O que é verdade e o que é invenção? Não corri para a livraria porque a ideia de alguém se aventurar, ao longo de 700 páginas, a imitar o estilo de Pessoa (as if) me deixou com fastio logo ali. Aguarde-se pela crítica, nesse caso. E ela chegou. Nas linhas que imaginei, mas muito mais demolidora do que poderia supor, Teresa Rita Lopes arrasa o livro, e o autor (ou co-autor?, cristo!), numa penada.
Eis o texto, que merece leitura integral: Incompreender Pessoa
Hoje, o Ípsilon, suplemento onde saiu a crítica de TRL, anuncia no seu Facebook que Cavalcanti terá espaço para uma carta-resposta na próxima edição em papel. 

São coisas destas que vendem jornais. Intelectual de mão na anca põe tudo a ler. Haja coragem de lavar a roupagem em praça pública, desde que se o faça com graça. Venham as polémicas! De preferência com elevação, mas se for mais pedestre o povo também não reclama. O que é preciso é mexer, debater e ter opinião. Eu sou team TRL, mas estou desejosa que me contradigam.


Cronologia:
5 de Abril - Blogue «Um Fernando Pessoa» faz uma apreciação crítica do livro (a meu ver, equilibrada).
20 de Abril - O autor é entrevistado pelo Sol.
26 de Abril - O livro é apresentado na Casa Fernando Pessoa.
4 de Maio -  Teresa Rita Lopes psicografa uma carta de Álvaro de Campos sobre a biografia.
6 de Maio - É emitida a entrevista ao autor na TVI24.
9 de Maio - O autor responde à carta de TRL.
25 de Maio - TRL publica a sua crítica no Ípsilon.
31 de Maio - Nova carta psicografada por TRL.
16 de Junho - Richard Zenith divulga no suplemento Q informações importantes.
16 de Junho - TRL, no DN, tem novo texto sobre o assunto.
22 de Junho - Sairá carta do autor no Ípsilon. Aguardemos.

19.6.12

Working class hero

Senhoras e senhores, a isto se deve o meu silêncio:


Acabei agora uma tradução grande e espero, finalmente, começar a pôr leituras e escrituras em dia.*

*Vou rabiscando umas coisas neste blogue, ligado à Com Texto (ainda que noutro registo).

16.4.12

Das coisas mais hilariantes (e tristes) que li nos últimos tempos

Deliciai-vos.

«LAYOUT - Design Editorial, Boas Práticas de Composição e Regras Tipográficas»

O sempre recomendável site tipografos.net está a comercializar um e-book sobre design editorial, da autoria de Paulo Heitlinger. 
Podem consultar os pormenores aqui e descarregar as primeiras 25 páginas do livro aqui.

12.4.12

Livro fumável

E se achavam que estes dez livros eram bizarros, o que dizer da obra que reúne algumas letras do rapper Snoop Dog, totalmente feita de cânhamo?




Livros e cigarros, senhor Orwell? Pelos vistos, podem ser uma e a mesma coisa...

Se ficaram curiosos, espreitem a notícia, que inclui um vídeo do autor.

Tipografia ao ar livre

No outro dia, parada num semáforo, olhei para a esquerda e dei de caras com um cartaz invulgar. Semicerro os olhos e percebo que é obra do Mário Feliciano, um dos mais conceituados tipógrafos portugueses, fundador da Feliciano Type Foundry. Fazendo uma pesquisa rápida, descobri que o outdoor que faz parte de uma iniciativa que envolve 18 artistas. É bom ver um tipógrafo entre eles, é bom ver letras à solta na cidade.



Não sei se já retiraram os cartazes (deixam tanto tempo os das campanhas eleitorais, bem podiam deixar estes...), mas o percurso está descrito aqui.

10.4.12

Editores do mundo, escutai!

Havendo muitos «livros secretos» disto e daquilo (vendas e não sei que mais), que tal publicar O Livro Secreto dos Livros Secretos? Se corresse bem, passávamos à sequela: O Guia Completo dos Guias Completos
Que digo eu? Estamos perante uma saga! O Manual Prático dos Manuais Práticos, 101 Respostas de A a Z, O Grande Livro dos Pequenos Livros.

Depois, para não cansar, variávamos um pouco: O Manual Prático dos Livros Secretos, 1001 Guias Completos para Consultar antes de Morrer...

16.3.12

Entrevista a Dulce Maria Cardoso



Ontem, na Sic Notícias, apesar da sua confrangedora atrapalhação, Márcio Crespo lá entrevistou Dulce Maria Cardoso, que, grande e amável (como só os grandes sabem ser), foi contando uma história pouco conhecida, a dos retornados, tema do seu último livro, O Retorno, recentemente publicado pela Tinta da China. 
Nunca li nada da autora, nem gostei especialmente do texto que MC leu no início, mas a sua autenticidade ao longo da entrevista fez-me querer saber mais dela, desta gente e deste período, uma odisseia de ontem e não uma anedota distante. 

Da entrevista retenho ainda uma ideia que Dulce Maria Cardoso referiu de passagem mas que merece sublinhado: «As possibilidades da literatura são tão grandes como as suas limitações.»

11.3.12

Winkingbooks



Para quem ainda não sabe, o site Winkingbooks é uma plataforma de troca de livros. De Saramago a  Stieg Larson, de George Steiner a Jorge de Sena, há lá um pouco de tudo. Parece-me um sistema relativamente justo (embora haja quem despeje livros miseráveis só para acumular pontos) e funciona bastante bem. Eu própria já agarrei boas oportunidades. Resumindo, recomendo.

29.2.12

Book (Fight) Club


Assim está bem. Contem comigo.

Malomil

Estou in love e in awe com o blogue Malomil, que nos brinda com pérola trás de pérola. Os temas vão da política às letras, passando pelas artes gráficas. Os pontos de vista do autor, António Araújo, oscilam entre o ácido e o melancólico e são sempre interessantes. Se não acreditam, espreitem a sua rubrica «Histórias da realidade improvável», este post sobre as capas de Cândido da Costa Pinto para a Colecção Vampiro ou este, uma recordação de viagem.

10.2.12

♥ Maurice Sendak ♥



Caras conhecidas

Já tinha sonhado com isto e afinal parece que nem é novidade: retratos-robot de personagens literárias a partir das suas descrições. 

Voilà Madame Bovary:
Via. Mais aqui.

5.2.12

« »

Sempre fomos uma terra de fenómenos. Agora estamos todos no entroncamento. À espera.

Vasco Santos

3.2.12

Ecos

« [...] Na época, era um verdadeiro campo de batalha [a Feira do Livro de Frankfurt]. Procurava-se descobrir a obra-prima desconhecida, procurava-se caricaturar a oposição. Circulavam anciãos respeitáveis, até cheguei ainda a ver Gaston Gallimard. O frenesi era tal que um dia, ao almoço, Valentino Bompiani, Paul Flamant, talvez Rohwolt e um outro de que não me recordo disseram que se alguém tivesse inventado um autor teriam todos ido à sua procura. E inventaram Milo Temesvar, que apenas teria escrito Let me say it now, pelo qual a American Library dera um adiantamento de 50 000 dólares (nos primeiros anos da década de 60). Bompiani volta do almoço, conta a história a Morando e a mim e começámos a andar de stand em stand a perguntar solenemente por Temesvar. Cerca das seis da tarde toda a feira estava em alvoroço. Às oito, num jantar, Giangiacomo Feltrinelli (nunca percebi se para desencorajar a concorrência e ter mais espaço livre para a sua caçada ou por estar mesmo convencido disso) afirma: "Desistam do Temesvar. Já comprei os direitos para todo o mundo." Para mim, Temesvar continua a ser uma pessoa da família. Algum tempo depois escrevi uma recensão falsa sobre ele, dizendo que havia sido expulso da Albânia por desvios esquerdistas e que havia escrito um livro sobre Borges intitulado Sobre o Uso dos Espelhos nos Jogos de Xadrez. Seria de pensar que uma pessoa expulsa da Albânia por desvios esquerdistas fosse absolutamente inverosímil, mas vim a saber que Arnoldo Mondadori tinha assinalado a vermelho aquele artigo, escrevendo "comprar imediatamente". Milo Temesvar retorna também na minha introdução de O Nome da Rosa. Resumindo, hoje estou também eu convencido da veracidade da sua existência. »

Umberto Eco, numa entrevista incluída no livro Guia de Leitura, da colecção «Mil Folhas», do Público

2.2.12

Gulag

Ontem à noite, num acesso de insónia, vi um documentário sobre as crianças do GULAG (mais aqui). Impressionante no mau sentido, devastador. Passou-se anteontem e já quase todos esquecemos. Ainda se pode fazer qualquer coisa. Na Coreia do Norte, outro escândalo, ainda há tudo a fazer.

Hoje, a espreitar a Pós dos Livros Vintage, vejo o primeiro volume de GULAG, de Solzhenitsyn. Tenho-o e ainda não o li, à espera de encontrar o segundo nalgum alfarrabista. Nunca o vi. Cheguei a duvidar de que tivesse sido publicado. Numa pesquisa rápida, para confirmar, dei de caras com isto. Artigo interessante, comentários muito reveladores. As pequenas coisas também ficam para a história.

PS: Se virem por aí o segundo volume, avisem.

1.2.12

Sinais dos tempos


Paulo Coelho homenageado no The Pirate Bay.  
Jean-Luc Godard dá 1000 euros a um pirata multado.
Vejamos o que ai vem.

31.1.12

«Os Maias» e a Meyer

A campanha da Fnac «A cultura renova-se» (que abrange livros, CD e DVD), com a frase «Troque Os Maias pela Meyer», gerou polémica nas «redes sociais». Isto deixa-me preocupada. O que li mostra que somos um país sem humor, mesquinho e sem perspectiva sobre as coisas. 



O ultraje manifestado roça o ridículo, nalguns casos. Li por todo o lado opiniões que diziam e insinuavam que «a Fnac está a querer comparar um bastião da nossa cultura e da nossa língua, o nosso Eça, a uma noveleira sem categoria»; «a Fnac, essa assassina de maravilhosas livrarias independentes, está a perverter leitores»; «era despedir imediatamente os responsáveis por isto»; «um verdadeiro atentado à leitura»; «o-mundo-está-perdido-onde-é-que-isto-vai-parar».
O que justifica este acesso de puritanismo generalizado?  Bem sei que este é o espírito subjacente à maioria dos comentários em jornais, blogues e Facebook, mas chegar a essas conclusões a partir de uma mera frase publicitária é realmente espantoso.

As pessoas que clamam pela cultura e pela língua internet fora fazem alguma coisa séria por elas? E quantos deles já leram realmente Os Maias? Os livros da Meyer «desencaminham» leitores? Querem convencer alguém de que os vampiros existem? Incitam ao ódio? Pretendem ser uma obra-prima? São do pior que para aí anda? Seria melhor tirá-los de circulação? Será que só livrarias de fraca qualidade os vendem?

Uma afronta ao Eça são os livros pejados de erros que por aí se vêem, publicados por editoras que, essas sim, têm uma grande responsabilidade na qualidade do que transmitem aos leitores.
Por exemplo, se há coisa que me incomoda nessa frase é o facto de Os Maias não estar em itálico ou entre aspas e haver uma vírgula antes de «pela Meyer».

Saberão os nossos arautos da cultura-com-c-maiúsculo qual a diferença entre uma campanha publicitária e uma recomendação do Ministério da Educação? Saberão eles que as pessoas podem usar a própria cabeça para analisar e escolher? Serão capazes de deixar os outros pensar por si e respeitar essas opções em vez de adoptar uma atitude paternalista?

Calculo que quem leu Os Maias e as histórias dos vampiros dê pelas diferenças. Acredito que não vai ser uma campanha publicitária a convencer ninguém de que a Meyer é tão boa ou melhor do que o Eça (muito menos se essa campanha não diz tal coisa). Desde quando é o marketing das livrarias que fixa o cânone literário?

Sobretudo, e nunca é demais sublinhar, o Eça vale por si e perdurará pelos seus méritos, não precisa dessa defesa fácil e populista.

Imagino que quem está disposto a trocar Os Maias por outra coisa ou já os leu ou não leria de qualquer forma. Trocar essa obra por outra — dando talvez a melhor a um outro leitor — parece-me uma excelente ideia. Os nossos leitores em potência bem precisam de descobrir o prazer de ler. Os editores bem precisam de escoar o que produzem (eternamente em excesso). Quem não tem acesso a livros e beneficia com esta campanha agradece.

Os Maias é um livro que quase toda a gente tem em casa (por ser obrigatório estudá-lo no ensino secundário e por ser um bibelot tradicional) e que quase ninguém leu. Praticamente toda a gente já ouviu falar da Meyer. A campanha está bem feita porque se adequa exactamente ao público a que se destina. Está ainda mais bem feita porque tocou no nervo autoritário/intelectual wannabe de muita gente e com isso fez mais barulho do que teria imaginado. (É uma pena que a Fnac tenha cedido à pressão e recuado, mas até isso deu que falar e, portanto, saiu a ganhar.)

«Os Maias pela Meyer» é um bom trocadilho. «A Meyer pel'Os Maias» teria sido mais bonito, mas assim também está bem. 
Numa caixa de comentários vi proposto um slogan alternativo: «Troque Camões pelo Camus». Tem piada, mas não seria tão eficaz e poderia ferir a susceptibilidade lusa. Os novos patriotas surgiriam dos seus esconderijos, indignados, exigindo satisfações. 
Lembrei-me de «Troque a sua Bíblia pelo Evangelho Segundo Jesus Cristo», mas a Fnac teria a Igreja à perna. Ela incorreria no mesmo erro — levar a sério uma coisa que foi feita a brincar, para chamar a atenção.

Em Portugal, ao que parece, brinca-se muito à cultura mas com a cultura não se brinca. Que pena.

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Fnac e livrarias independentes
A reboque disto, aproveitou-se  para dizer que a Fnac é o lobo mau do inocente e saudoso comércio tradicional. Quer se goste quer não, a Fnac fez muito pelos leitores de Portugal e continua a fazer — esta campanha, de certa forma, é a prova. Uma frase publicitária não deveria preocupar-nos. O espaço nas Fnacs dedicado aos livros, cada vez mais pequeno (porque os videojogos e os gadgets trazem mais gente às lojas), é que deveria deixar-nos alarmados. Não são só os senhores da Fnac que optam por diminuir este espaço, somo nós, consumidores de livros, que não aumentamos em número e que optamos por outras coisas. Da mesma forma, a Fnac não matou as livrarias independentes. Fomos nós que deixámos de lá ir e/ou elas que se suicidaram lentamente. Todas as moedas têm dois lados, há que pensar neles e assumir as responsabilidades.


A solidariedade da campanha
Li também que a Fnac não era realmente generosa nesta acção, pois lucra alguma coisa com o assunto. Isto dá pano para mangas e este não é o sítio para o debater. Em todo ocaso, acrescento apenas que uma outra cadeia de livrarias, por exemplo, promoveu recentemente uma campanha em que convidava os clientes a comprar livros nas suas lojas e a doá-los, não oferecendo nada nem à instituição nem ao cliente.

Pérolas I


Montra de uma livraria no Campo Pequeno. (2009)

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A critic is someone who enters the battlefield after the war is over and shoots the wounded.

Murray Kempton

Wikilivros

Através do blogue Malomil, fiquei a conhecer os wikilivros que alguém anda a publicar em regime print on demand via Amazon. São compilações de artigos, feitas de modo automático (o nome das «editoras», Alphascript e Betascript, sugerem que o maestro da coisa tem ligações à informática), que agregam conteúdos vagamente assemelhados, dando-lhes a forma de livro. Há sempre uns organizadores da obra que dão o nome por aquilo, e o facto de se tratar de material da Wikipédia não é propriamente ocultado.


Na imagem acima, temos a capa de um «livro» que ora aborda um hospital militar chinês, ora fala das relações sino-japonesas de 1933 a 1936.

Porque é que alguém quereria comprar em papel conteúdo que pode obter gratuitamente on-line é coisa que me ultrapassa. Mas, com a tecnologia POD, se se vender um exemplar provavelmente a «editora» já faz lucro. Uma vez montado o programa que compila os artigos e compõe o livro, é só esperar que apareçam clientes.

Quanto às questões levantadas relativamente ao copyright, parece que é tudo legítimo. Se não é bonito andar a fazer dinheiro com conteúdo que autores disponibilizaram gratuita e generosamente, nada parece proibi-lo segundo a licença Creative Commons da Wikipédia.

Duvido que o arquitecto desta artimanha faça muito dinheiro com isto (pelo menos nestes moldes). O que me deixa apreensiva é o mecanismo. Por aqui se vê como não é difícil apanhar conteúdos que voguem na internet e usá-los para fins não inicialmente previstos.

Ver mais sobre o assunto aqui.

Campanhas II

Eis o vídeo desta campanha, disponível no canal Youtube da APEL desde meados de Dezembro.



Padre António Vox, Bono Vieira. Potato, potato.

Com o patrocínio dos Radiohead e dos livros da Babel.

18.1.12

Campanhas

A Milwaukee Public Library lançou uma bela campanha de incentivo à leitura, que tem dado que falar on-line:



Não me importava de ver uma coisa destas por cá.

Obrigada, S! :)

9.1.12

Dubito ergo cogito

15 anos de Ciberdúvidas. Década e meia de um excelente serviço prestado a todos os falantes e curiosos da língua portuguesa, que tem ajudado tradutores, revisores, professores, estudantes e o público em geral a navegar melhor pelo meio das palavras.
Obrigada, Ciberdúvidas — consultores, consulentes, cronistas e patrocinadores — por este tesouro que é de todos e que todos os dias cresce um bocadinho. 
É pela dúvida que se avança. É sim, senhor (deputado).

5.1.12

2.1.12

Listas

Há-as de tudo.
A Lake Superior State University elaborou a sua 37.ª List of Words Banished from the Queen's English for Misuse, Overuse and General Uselessness.

Eis algumas :
- Occupy
- Man Cave
- The New Normal
- Ginormous
- Thank You In Advance

Bom 2012!

Link
Via

Go to hell


Via

23.12.11

Boas Festas!

The British writer Richard Adams, appearing alongside Gore Vidal on That Was The Week That Was, called his work "meretricious."

"Pardon?" said Vidal.


"Meretricious."

"Meretricious to you," the American replied, "and a happy new year."

19.12.11

Of all the gin joints in all the towns in all the world...


Cada um tem o que merece, diz-se. Nós, se calhar, merecemos isto. Esta citação, desta  pessoa, numa campanha destas organizada por esta associação, neste país.  Mas não deixa de ser triste.

Votos de um natal lúcido e de um 2012 possível.

5.12.11

Seven Bar Jokes Involving Grammar and Punctuation.


1. A comma splice walks into a bar, it has a drink and then leaves.
2. A dangling modifier walks into a bar. After finishing a drink, the bartender asks it to leave.
3. A question mark walks into a bar?
4. Two quotation marks “walk into” a bar.
5. A gerund and an infinitive walk into a bar, drinking to drink.
6. The bar was walked into by the passive voice.
7. Three intransitive verbs walk into a bar. They sit. They drink. They leave.

Por  Eric K. Auld, na MacSweeney's.

Perusing


18.11.11

Crises

Há dez anos era assim:

Fala-se de crise da edição portuguesa e, pela primeira vez nos últimos dez anos, quase abertamente. Um inquérito recente aos editores, publicado no Jornal de Letras a esse propósito, dá bem a ideia de que existem razões para temer as consequências destes tempos, já que o futuro é sempre optimista. Há dados que convém ter em atenção: cento e cinquenta livrarias encerraram as suas portas desde o início de 1991 até aos últimos meses do ano; o número médio de venda de cada título posto à disposição dos leitores portugueses baixou consideravelmente no mesmo período, acelerando uma tendência que já se registava desde há alguns tempos; alguns editores tomaram medidas que evidenciam uma disposição clara de desinvestir, e outros preparam-nas. Nada que não tenha acontecido em sectores diversos da vida económica portuguesa, com a diferença óbvia de, nestes casos, existir uma preocupação do Estado no sentido de possibilitar saídas para as crises que se manifestaram ou manifestam.
No caso da edição, a  situação é bem diferente. O Estado português faz aprovar um Acordo Ortográfico sem ter em conta a opinião dos editores portugueses, manifestamente contrária; uma lei como a do preço fixo, que pode vir a revelar-se disciplinadora do mercado livreiro tarda em ser discutida e publicada. Exemplos colhidos de entre aqueles que convém ter em mente no início de 1992 e da adesão plena de Portugal à CEE, como reza o lugar-comum.
A vida em geral não é simples, mas a vida da edição, essa torna-se cada vez mais perigosa.

Francisco José Viegas, no editorial da Ler n.º 17, em 1992.

8.11.11

Nota

Não cheguei a terminar a minha tradução do texto Words, de Tony Judt, mas em O Chalet da Memória, que acaba de ser lançado por Edições 70, esta e outras pérolas estão lá, cada uma mais lúcida e comovente do que a anterior.

3.11.11

Offshore em bom

Até há pouco tempo, nunca tinha ouvido falar desta aventura. São os GBA Ships, começaram em 1970 e vão no quarto navio. Logos foi o primeiro e atracou em Lisboa duas vezes (76 e 84). Diz quem lá foi que a novidade era completa e que os livros a bordo, numa espécie de feira flutuante, eram baratíssimos.
O objectivo da organização é levar ajuda e conhecimento a quem mais precisa. Segundo o site oficial (e não é difícil acreditar), estas feiras são, para muitos, a primeira oportunidade de comprar boa literatura e muitas pessoas sem meios para estudar puderam aprender e, consequentemente, melhorar as suas vidas através destes livros.

- 6000 títulos disponíveis, incluindo livros escolares e especializados;
- 40 milhões de pessoas a bordo desde 1970;
- Mais de 160 países e territórios visitados;
- 1400 aportagens.

É obra.

Para saber mais e, quiçá, contribuir: www.gbaships.org.

Obrigada pela história, P.!

25.10.11

Como se já não bastasse

Ter milhares de livros por ler e ainda haver outros tantos escondidos — eis uma lista de livros ficcionais dentro de livros (mais ou menos) reais.

À noite, entre os livros

Spike Jonze: Mourir Auprès de Toi on Nowness.com.

via S. :)

20.10.11

Uma nova era


A grande notícia da semana não é a Amazon avançar pela edição adentro. Previsível. Inevitável. De certa forma, já tardava. Quem tem o canal quer a fonte, quem tem a fonte quer o canal.
A grande notícia da semana — do mês, do ano? — é o passo dado pela Simon & Schuster. Este grupo editorial anunciou ontem o lançamento de um «portal do autor» onde os autores podem consultar o comportamento comercial das suas obras nas últimas seis semanas. (A Amazon já fornecia um serviço parecido, mas só dava as suas vendas).
Há muito que os autores querem participar activamente nas vidas dos seus títulos. O acesso a estes números, que vêm de diversas fontes, resultará numa transparência inédita. Tal abertura trará vantagens e desvantagens — provavelmente mais das primeiras, a julgar pela jogada da S&S.
Se por um lado este livre acesso à informação fomenta o envolvimento dos autores na fase de promoção e evita os contactos do tipo «como estão a correr as vendas da minha obra?», por outro responsabiliza imediatamente a editora e convida a contactos do género «por que motivo o meu livro não vende como esperado se fiz tudo o que sugeriram?».
Uma coisa é certa: autor e leitor ganham. O primeiro fica um pouco menos às escuras e descobre novas ferramentas, conseguindo pensar o seu livro (e os seguintes) de outras formas, o segundo lucra com o esforço.
A minha previsão é a de que com este gesto de coragem (pioneiro, tomado na devida altura, quando ainda não era inevitável) a editora ganhará também: mesmo sabendo que com isso terá alguns aborrecimentos pela frente, ao abdicar de um pouco de controlo conquista colaboração e confiança. E a confiança dos autores no trabalho da editora não tem preço.

O futuro não pertence a quem tem mais, pertence a quem faz melhor. Vejamos o que aí vem.

17.10.11

Comparações

O negócio editorial não se assemelha a nenhum outro. Por vários motivos. A começar pelo facto de não se vender muito de uns quantos produtos, e sim pouco de muitos produtos complexos. Além de o paradigma ser o da cauda longa, as estruturas das editoras e o mercado do livro desdobram-se em especificidades filigrânicas (o que pode ser, e geralmente é, um desafio infernal para o gestor que «vem de fora»).
Durante anos (na verdade, até ontem), achei que o negócio dos livros tinha características tão próprias que não havia comparação possível. Até que me lembrei de uma analogia que encaixa na perfeição em muitos pontos. Com as devidas salvaguardas, esta comparação pode permitir-nos pensar a economia do livro e a gestão das editoras de outra forma.

E que indústria é esta, com tantos paralelos com a do livro? A farmacêutica.

• Autores em domínio público = genéricos.
• Livros académicos/científicos/especializados = medicamentos específicos, que exigem investigação pioneira e dispendiosa.
• Livros de grande público = medicamentos generalistas, não sujeitos a receita médica. Como há mais concorrência, o investimento em marketing tem de ser maior.
• Professores e outros prescritores = Médicos.
• …

Depois há muitas diferenças, claro:

• O Estado comparticipa em grande escala muitos medicamentos e todos os cidadãos precisam de os tomar numa altura ou noutra, ao passo que, no livro, têm os editores de dar uma parte ao Estado (11 exemplares obrigatoriamente cedidos para distribuição pelas principais bibliotecas – o chamado depósito legal) e o cidadão só compra livros se quiser.
• Farmacêuticas e farmácias estão relativamente bem organizadas e agrupam-se em associações distintas.
• …

Porém, alguns problemas são realmente parecidos:

• Onde dantes havia pontos de venda exclusivos – livrarias e farmácias –, agora temos uma abertura ao grande mercado – hipers, lojas generalistas, parafarmácias – que é simultaneamente uma ameaça e uma oportunidade.
• Os livreiros/farmacêuticos de ontem, que aconselhavam o cliente, foram substituídos em muitos casos por pessoas sem experiência, com baixos salários e alta rotatividade, cuja única habilitação é um colete/uma bata branca.
• …

A dimensão dos dois sectores na nossa economia pode ser bem diferente (e o gestor que actua num pode revelar-se inútil no outro), mas há problemas comuns. Assim sendo, talvez as soluções sejam análogas. Olhemos então para as estratégias deste «gémeo», já muito profissionalizado, e pensemos nas lições que podemos daí tirar.

14.10.11

Injustiça poética

Com as recentes mexidas no IVA, o Governo quer dar-nos a beber vinho e a comer livros. Por mim tudo bem.

5.10.11

Cerejas

A propósito disto, lembrei-me desta bela lista, que não tendo a ver até tem. Críticos, escritores, escritores críticos e críticos escritores, a que depois ainda se juntam leitores e não-leitores. Uma grande confusão. Geralmente acerca de nada. (Neste caso, de coisa nenhuma.)



William Faulkner sobre Ernest Hemingway:
“He has never been known to use a word that might send a reader to the dictionary.”

Ernest Hemingway sobre William Faulkner:
“Poor Faulkner. Does he really think big emotions come from big words?”

Guarda-livros

À imagem da nossa Livreira Anarquista (de férias?), também temos crónicas de biblioteca. Esta em particular = ♥♥♥♥♥. (Ah, e esta lista também é muito boa.)

Histórias dos meus círculos de leitora

Recentemente deram-me a ler um excerto do História do Cerco de Lisboa. Fiquei a saber que a personagem central é um revisor e decidi que compraria o livro. Já em casa, fui à estante onde estão os saramagos e vejo que afinal o tenho. Herdei-o e não cheguei a lê-lo. Primeira edição, 1989. Folheio-o e vejo que me está dedicado por alguém cujo apelido não destrinço. José Manuel? José França? Maio de 2007. Que José me assinaria um livro cordialmente em 2007? Saramago! Foi na Feira do Livro de Lisboa, quando lhe levei alguns volumes que o entretiveram por três minutos. Não costumo pedir autógrafos, mas. Uma simpatia no trato, uma disponibilidade humilde para os leitores como nunca vi. Independentemente do que fez e disse ao longo da vida, nos últimos anos, tanto quanto a saúde lhe permitia, passava as tardes na feira, amável, ao lado do seu editor, exposto a quem quisesse interpelá-lo. Havia dias em que o parque estava deserto, mas nem por isso desanimava ou se ia embora. Circulava, ouvia o pedido ocasional e rabiscava em conformidade. Estava ali.
Comecei agora a ler a História (sorrindo a intervalos ao pensar que, no ano em que nasci, o autor trabalhava para a editora em que agora trabalho). Quando acabar conto como foi.

Food for thought

Dá que pensar.

22.9.11

Acordeão ortográfico

Já pensei muito nisso, acabando vencida pelo cansaço.
Seja como for, o argumento de o acordo aproximar os portugueses de Portugal e do Brasil jamais colará. Veja-se este exemplo flagrante.

21.9.11

31.8.11

Para compensar o silêncio

Aqui fica este mimo da spoken word.



Mais?



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Paragem temporária. Trabalhos em curso.

10.8.11

Duas más notícias e meia

Faço por me manter optimista, mas duas destas e mais meia daquela deixam qualquer um arrumado.



1. O Facebook não serve só para clubes do livro e afins, parece que a página «I Hate Reading» tem 437,800 likes. Podem ser miúdos parvos, convencidos de que são contracorrente (que ainda não descobriram que não há muitas coisas mais gostáveis e revolucionárias do que ler), mas ainda assim... (Daqui.)

2. O caso do Pequeno Gatsby. Há os digests, e depois há isto, uma coisa indescritível e alarmante. Eu não digo que ler (ler a sério, não falo de ler a sina nem o pacote de cereais) é um acto subversivo? Isto não é um resumo ou uma versão, é um atentado. E também não é uma alternativa inocente: além de estupidificante é, sobretudo, enganadora, pois traz o título original e o nome do autor na capa.
Se em tempos conseguir ler era difícil por não haver meios, parece-me que hoje o é por haver «demais».

3. Apesar das muitas lojas pilhadas em Londres, parece que as livrarias ainda estão intactas. A grande maioria dos cidadãos leitores não faria nada do género, mas os vândalos não têm curiosidade. Ainda bem?



Obrigada, S e P!

27.7.11

Babel


Não é, mas podia ser.

Daqui.

Dizer a poesia

Depois deste, há mais vídeos:


&


Mesmo quem não gosta - de poesia e/ou de recitação -, tem aqui um documento.